Uma oportunidade para o país
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Não tenho usado este espaço para me pronunciar sobre política nacional. Estou muito focado na gestão autárquica cuja responsabilidade está sob a minha alçada e nos grandes desafios com que as autarquias se debatem nos dias de hoje. Contudo, as circunstâncias atuais que o país atravessa, e que são deveras preocupantes, justificam que partilhe publicamente a minha reflexão.
Diz o povo na sua imensa sabedoria que de boas intenções está o inferno cheio. Portugal não tem conseguido sair das boas intenções e por isso vai sendo sucessivamente ultrapassado por outros no nível de vida. O que tem acontecido nos últimos tempos é confrangedor para o país e penalizador para os portugueses.
A admissão por parte do diretor- -executivo do Serviço Nacional de Saúde, Fernando Araújo, de que “novembro vai ser o pior mês, eventualmente, nestes 44 anos do SNS”, dá-nos a imagem perfeita de um país que, ao contrário do que seria espectável e normal, parece estar a andar para trás.
As crises na saúde, na habitação, nos transportes, na justiça, na segurança, e na educação, para mencionar apenas as que estão mais na ordem do dia, são reflexo de um Governo que, apesar das condições únicas de uma maioria absoluta, não conseguiu dar respostas estruturais aos problemas, perdendo-se na gestão da espuma dos dias.
Lamento que o país tenha chegado a este ponto e viva uma situação que não era de todo desejável nesta altura. Mas não consigo ficar triste com o fim anunciado deste Governo. Pelo percurso até agora trilhado parece-me evidente que, mesmo sem esta crise política, o país iria continuar a acumular problemas e a não arranjar soluções.
Esta é, por isso, uma oportunidade para o país. Independentemente do novo Governo que vier a ser formado e legitimado pelos portugueses em março próximo, seria bom que os erros do passado não fossem esquecidos e que se iniciasse um processo governativo com verdadeiro sentido de Estado e verdadeiro sentido de missão pública. Os partidos têm muita responsabilidade neste posicionamento e não podem deixar de ter presente estas premissas maiores desde já.
Têm a palavra os portugueses, mas seria bom que estes amadurecessem a sua escolha e se lembrassem que o adágio popular que diz que “para pior basta assim”, não é uma boa máxima. Não nos podemos conformar com o atraso estrutural do pais. Não podemos pactuar com a degradação dos serviços públicos, sobretudo daqueles que são essenciais à qualidade de vida das pessoas. O atraso do país não pode ser um fado. É preciso acreditar e esta é uma oportunidade para dar espaço a novos intérpretes.