O dossier desta semana da revista "Newsweek", dedicado aos ataques perpetrados por hackers cada vez mais organizados e sofisticados, impressiona pela extensão geográfica e pela dimensão numérica. Trata-se de uma noticiabilidade difícil de produzir, porque este tipo de crime é muitas vezes mantido em segredo. Daí, nenhum de nós ter uma noção aproximada de uma realidade que se desenvolve muito na chamada darknet.
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O artigo começa com aquilo que se passou na manhã de 11 de janeiro nos EUA, quando a Administração Federal Americana de Aviação interrompeu, momentaneamente, a descolagem das campainhas aéreas nos EUA devido a uma falha num software importante para a segurança dos voos. Nesse mesmo dia, em São Francisco, o Departamento da Polícia sofria um ataque informático, do qual resultou a publicação de mais de 120 mil registos aí roubados. Na Europa, há vários outros exemplos: na mesma data, na Dinamarca, "sites" de oito bancos eram atacados por piratas informáticos...
Até 2022, estes crimes estavam a crescer anualmente 15 por cento. A partir do ano passado, essa percentagem subiu para 38 por cento. Os ataques cruzam diversos setores e geografias. Atacam serviços de emergência, ameaçam redes elétricas, paralisam redes de transportes aéreos e ferroviários, espiam instituições governamentais...
Conta a "Newsweek" que, este ano, estes piratas invadiram a empresa de comunicações Slack e roubaram endereços de e-mail de mais de 200 milhões de utilizadores do Twitter. No ano passado, manipularam os computadores de uma estação de tratamento de água na Florida e contaminaram o abastecimento de água; algum tempo depois, forçaram o fecho do maior oleoduto dos Estados Unidos até o respetivo operador lhes pagar uma quantia avultadíssima para reverterem esse ataque. A rede elétrica também tem sofrido permanentes ataques. Isso significa que estes crimes colocam já em causa a vida de muitas pessoas.
Não se pense, porém, que isto é um assunto das grandes empresas e das principais instituições públicas. É verdade que esta nova realidade cria uma grande perturbação nos governos nacionais e constitui um enorme pesadelo económico. Todavia, os cidadãos também não estão protegidos. Individualmente, cada um de nós está vulnerável ao roubo de "passwords" de contas bancárias e outras operações financeiras, por exemplo. Precisamos de mais amparo. As instituições e as empresas devem investir mais na proteção informática e, no plano individual, necessitamos de mais literacia digital a fim de nos salvaguardarmos das muitas armadilhas com que somos confrontados todos os dias.
*Prof. associada com agregação da UMinho