Sanna Marin tem 36 anos, facto que só por si a coloca numa posição rara. É uma primeira-ministra invulgarmente jovem, num país com uma cultura de exigência e forte escrutínio de titulares de cargos públicos. Se a isso se somar a atitude descontraída que tem adotado publicamente, fotografada em discotecas ou festivais de verão, percebe-se o alarido criado pela Oposição finlandesa em torno de vídeos em que a vemos a dançar e cantar numa festa privada.
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Por princípio, a vida privada de um político não interessa. Exceto, por razões óbvias, se cometer uma ilegalidade ou se houver uma evidente incoerência entre medidas e declarações públicas e opções privadas. O teste de despiste de drogas a que prontamente Sanna Marin se submeteu dissipará dúvidas sobre questões legais. Quanto ao mais, nada há de ilegal em que um primeiro-ministro se divirta e faça o que é natural qualquer pessoa fazer, aos 36 anos como em qualquer outra idade.
Um líder político não tem de ser um robô, nem é exigível que seja abstémio, sisudo e com uma vida recatada enquanto permanecer no cargo. Não seria sequer razoável argumentar que essas características são requisitos para uma tomada de melhores decisões. Não faltarão vantagens numa atitude mais descontraída, próxima das pessoas e simplesmente humana, e não há que confundir rigor e profissionalismo com formalidade ou frieza.
O que Sanna Marin não pode esquecer-se nunca é que todos os seus gestos, por mais privados que lhe pareçam, estão sujeitos a tornar-se públicos. O seu desabafo quanto à expectativa de que os momentos descontraídos não cairiam na esfera mediática não é apenas ingénuo: ignora um tempo em que tudo o que é gravado ou fotografado pode, a todo o momento, tornar-se global e viral. Essa é uma regra que vale para qualquer cidadão, mas é ainda mais inevitável para figuras públicas. A exposição, mesmo que não procurada, tornou-se o novo normal. Não há como escapar-lhe. Que efeitos terá essa exposição na nossa vida em sociedade é algo que provavelmente só perceberemos a longo prazo.
*Diretora