Volta, meia-volta, lá vem alguém relacionado com o Governo em funções que afinal não é licenciado com todos os esses e erres ou mesmo sem erres nenhuns.
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Na semana passada lá ficamos a saber de mais dois casos, desta feita dois adjuntos que, afinal, não tinham as licenciaturas que os respetivos despachos de nomeação diziam ter.
Esta questão levanta, pelo menos, três problemas importantes.
Em primeiro lugar, devemos perguntar-nos porque é que parece haver uma tão incontornável obsessão pela necessidade de uma licenciatura a ponto de se poder mentir para suprir a falta.
O recente acesso generalizado dos portugueses ao Ensino Superior e a memória recente dos sacrifícios que tantos tiveram de fazer para que lá se chegasse, é porventura fundamento bastante. Ser doutor garantiu durante muito tempo, no país, uma situação de superioridade, de privilégio até, o que transformou o título em sinónimo quase automático de sucesso.
Mas o acesso generalizado que referi e a crescente concorrência entre pares, faz hoje em dia do grau de licenciatura um patamar sem história, quase tão naturalmente exigível como ter carta de condução.
Já não sabemos lidar com senhores sem ser doutores e partimos sempre do princípio que um senhor sabe menos e está menos preparado do que um senhor doutor!
O segundo problema vem precisamente daqui. Como ninguém se atreve a avaliar a qualidade de um profissional se este não for licenciado, todas as posições requerem a licenciatura como requisito básico. Quem não a tem, pelos vistos, sente-se forçado a mentir. Curiosamente, tem sido sempre no plano das funções políticas mais ou menos relevantes que o assunto se tem colocado. O recrutamento e a qualificação destes agentes devem ser equacionados e os patamares mínimos de educação formal bem definidos, conhecidos e comunicados.
Por último, mas não menos importante - simplesmente verificar. Para qualquer emprego a que nos candidatemos temos a obrigação de disponibilizar o curriculum vitae, acompanhado dos comprovativos associados a todas as fases da nossa vida académica e profissional.
Por que razão, então, é que as entidades que têm a responsabilidade de preparar os despachos de nomeação de todo o efetivo político de um dado Governo não os solicitam e conferem?
Vários problemas e mal-entendidos teriam sido evitados e com estes uma crescente descredibilização da classe política no seu todo.
ANALISTA FINANCEIRA