Com a chegada das chuvas e a proximidade do Natal, o trânsito nas nossas cidades, e no Porto em particular, transforma-se num cenário caótico.
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Apesar da crise, que fez com que muitos cidadãos tivessem que optar por reduzir as suas deslocações em transporte individual, apesar do metro do Porto e da STCP terem ajudado a resolver alguns dos problemas ancestrais de mobilidade, apesar de nunca ter havido tantos parques, a verdade é que, em muitas zonas da cidade, o trânsito está sujeito a permanentes engarrafamentos, o que tem um impacto muito negativo nas nossas vidas.
Para além do stress causado, desperdiça-se combustível e torna-se difícil calcular o tempo necessário para fazer qualquer trajeto, seja no automóvel, seja no autocarro, também ele sujeito a esses constrangimentos.
Olhemos, por exemplo, para o que se passa, num qualquer dia de semana, na Avenida da Boavista. Sendo uma artéria vital para a mobilidade na cidade, com faixas duplas em cada sentido, a verdade é que qualquer automobilista se vê na necessidade de serpentear entre os veículos estacionados em segunda fila, invariavelmente com os piscas ligados. Há inúmeras escolas privadas onde os paizinhos se sentem na necessidade de parar à porta para deixar as crianças, mesmo que haja um lugar de estacionamento a 20 metros. Há um drive-in na zona do Bessa sem infraestruturas suficientes, o que obriga a que uma faixa da avenida seja tomada por quem espera pelo seu hambúrguer. Há um supermercado mais acima, com estacionamento gratuito, o que no entanto não impede que os seus utentes, por razão de comodidade, estacionem no eixo da via. Ou seja, a via de dois sentidos transformou-se num estacionamento duplo com uma via única praticável, em cada sentido. Na Avenida Brasil, outra via muito concorrida, não haverá uma única hora do dia em que se possa rodar pela faixa da direita, porque esta se transformou num estacionamento consentido. No centro, temos um panorama idêntico. Nas Virtudes, onde existe o parque de estacionamento que serve o Palácio da Justiça, estaciona-se de ambos os lados da via e basta que um veículo de carga opte por esse percurso para causar, de imediato, um engarrafamento. Na estreita Rua de Belomonte, que tem dois sentidos e que por isso não pode comportar estacionamento, os condutores veem-se e desejam-se para se cruzarem, porque uma das faixas foi tomada pelo estacionamento. Tudo isto sucede com impunidade, como se houvesse um direito consuetudinário que garantisse o direito do infrator. O pior sucede, contudo, quando ocorre um pequeno acidente. Por norma, ninguém assume a responsabilidade, não há consenso quanto a declaração amigável e, por isso, os condutores envergam os seus coletes e esperam, pacientemente, pela Polícia, evitando remover os veículos acidentados mesmo que estes impeçam a circulação. Os elétricos, esses, que voltaram para animar a cidade, perdem horas a fio porque há condutores que estacionam em cima dos trilhos.
Não compreendo que um carro parado num lugar onde há parquímetros seja multado por o condutor não ter feito o pagamento, mas que nada aconteça a quem estaciona, mesmo ao lado, em segunda fila. E, para isso, a lei deveria ter uma pena bem mais severa para quem estaciona onde é proibido parar. O mesmo deveria suceder, no caso de um acidente, com o condutor culpado que recusou a assinar a declaração amigável por mera teimosia. Se teve um acidente e foi culpado, certamente violou o código da estrada. Bastaria isso para que os culpados se apressassem a resolver a questão de forma amigável. Finalmente, haveria que reduzir muitos dos sentidos únicos que contribuíram para toda esta situação. A ideia de criar duas faixas para agilizar o trânsito não resulta, apenas facilita e fomenta o estacionamento selvagem e, como se sabe, os atropelamentos dos mais incautos. Não desejando um Estado policial, entendo que qualquer coisa tem de ser feita, e com urgência. Afinal, trata-se, acima de tudo, de impor regras essenciais de civismo.