Ninguém pode adivinhar qual seria o rumo de Portugal se não tivesse acontecido o 25 de Novembro.
Uma coisa é certa: não estariam os diversos partidos que compõem o atual Parlamento a debater o que aconteceu há 44 anos, quando militares do Regimento de Comandos da Amadora, impediram uma tentativa de golpe da fação mais radical das Forças Armadas pondo fim ao Processo Revolucionário em Curso, o chamado PREC.
Foi o primeiro passo para que se instaurasse em Portugal uma democracia pluralista, política e constitucionalmente baseada num regime semipresidencialista, e baseada numa economia de mercado. Se o chamado "grupo dos nove", liderado por Melo Antunes, e que tinha como responsável operacional Ramalho Eanes, não tivesse agido, a probabilidade de o país adotar um regime de partido único era bem real. E hoje não estaria Marcelo Rebelo de Sousa a alertar que "ninguém se deve apropriar de datas nacionais".
Tudo isto para explicar que, enquanto o país político não refletir verdadeiramente sobre esta data, haverá quem faça dela uma arma de arremesso, semeando a discórdia para poder colher os frutos. Seja o Chega, de André Ventura, ou o Bloco de Esquerda, de Catarina Martins. O presidente da República considera que o 25 de Novembro deve unir e não desunir o país, embora esconda se é ou não a favor de uma comemoração oficial da data. Uma coisa é certa, todas as comemorações atuais são amplamente consensuais e a do 25 de Novembro não o é. Veja-se a divisão ideológica na Assembleia da República na última semana, com a Direita a exigir homenagens aos militares do 25 de Novembro e os partidos mais à esquerda a votar contra. O PS resolveu abster-se num voto de saudação do CDS, que foi apoiado pelo PSD, Chega, Iniciativa Liberal e de sete deputados socialistas.
*Editor-executivo
