Os autarcas do Norte têm protagonizado, nos últimos dias, um espectáculo deprimente. A propósito da introdução de portagens em três auto-estradas do Norte, lá vão, uns a seguir aos outros, em romaria à capital, para mendigar uma isenção.
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1. Os autarcas do Norte têm protagonizado, nos últimos dias, um espectáculo deprimente. A propósito da introdução de portagens em três auto-estradas do Norte, lá vão, uns a seguir aos outros, em romaria à capital, para umas reuniões com o pessoal do Ministério. Não vão para debater, porque a sua opinião, isolada, não conta, vão para mendigar uma isenção. Imagina-se o pedido: ao menos num pequeno sublanço, senhor ministro, o povo já ficaria contente e faríamos boa figura. O ministro ou um funcionário qualquer que nunca passou de Sacavém depois lhes dirá se sai o brinde ou a fava. Quando for a fava, o autarca ficará a reclamar sozinho a desconsideração à sua terra. Se sair o brinde, lá teremos o discurso, igualmente bolorento, sobre a capacidade negocial do autarca. Como se disse, um espectáculo deprimente, que revela zero de estratégia e tudo por um favorzito. Vamos ouvindo cada um dos autarcas e os argumentos são os mesmos: está a discriminar-se uma região, não se tem em conta o empobrecimento do Norte, faz-se tábua rasa do facto de não haver estradas alternativas. Mas, se todos apontam as mesmas críticas, porque não falam e agem em conjunto? Só há duas explicações: mesquinhez ou incompetência. Já nem surpreende que o ministro, a pouco mais de um mês de começar o jogo, continue a esconder as regras. No último Conselho de Ministros, foi aprovado o decreto-lei que estabelece onde se paga e o que se paga. Mas quando os jornalistas pediram mais informação, ficaram apenas a saber que o decreto é confidencial. Não faltava mais nada que o cidadão ficasse a saber o mesmo que o ministro. Ainda se corria o risco de alguém pensar que vivemos numa democracia.
2. Vem aí o Papa e, com ele, as tolerâncias de ponto. Apesar de aqui e ali se notarem algumas resistências laicas, a verdade é que no dia 13 o país terá um feriado. Lisboa e Porto terão ainda direito a umas horas extras de folga, a 11 e a 14, respectivamente. Tenho para mim que esta decisão deveria ser integrada no pacote de medidas do PEC: se os nossos governantes juram, todos os dias, que a nossa crise não tem nada a ver com a grega, nada como um sinal definitivo aos investidores e especuladores; enquanto na Grécia se cortam subsídios e reformas, por cá acrescentam-se feriados. Só um país próspero se pode dar a estes luxos, amigos analistas da Standard & Poors. Enfim, ganhará a dívida pública, com taxas de juro mais simpáticas, perderão as famílias. É que uma das consequências desta tolerância papal é o encerramento de escolas e, portanto, uma dor de cabeça para milhares de pais. Alguns terão até de faltar ao trabalho. Aumentará o absentismo e diminuirá a produtividade do país, mas isso que interessa? O que é preciso é ter fé de que não somos a Grécia. Ainda que, como outras, seja uma fé um pouco cega.