Uma questão de redes, não de eventos
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Portugal tem dado passos no seu posicionamento internacional, recebendo cimeiras, missões económicas, fóruns, feiras e festivais. Somos bons anfitriões – e temos sido, muitas vezes, elogiados por isso. Contudo, em matéria de internacionalização, continuamos demasiado dependentes de acontecimentos pontuais e pouco focados na construção de redes duradouras e estratégias de médio e longo prazo.
Na última semana, o Portugal Fashion – evento da ANJE com três décadas de história – contou com uma forte presença internacional, incluindo plataformas africanas ligadas à economia criativa, como o movimento CANEX, e uma delegação institucional e empresarial da Arábia Saudita. Estes blocos geográficos têm vindo a afirmar-se como protagonistas de uma nova geopolítica económica e cultural, com estratégias próprias, recursos financeiros dedicados e uma clara aposta na internacionalização das suas marcas, talento e ideias. E fazem-no com determinação, continuidade e visão estratégica.
Estes exemplos revelam algo fundamental: a internacionalização não pode continuar a ser pensada apenas como exportação. Exportar sem conhecer os mercados, sem alianças locais, sem continuidade institucional, é como lançar sementes ao vento. Internacionalizar, atualmente, é criar redes de cooperação, sistemas de confiança, presença qualificada e canais abertos à inovação mútua. É desenhar influência – e não apenas marcar passagem.
Portugal tem ativos de grande valor: desde logo a língua portuguesa, a estabilidade institucional, a criatividade, a tecnologia e o acesso privilegiado a mercados diversos. Mas falta-nos intencionalidade estratégica, sendo necessários menos fogachos e mais continuidade, menos celebração de eventos e mais investimento em plataformas de ligação, presença empresarial sustentada, cooperação bilateral ativa e conhecimento aprofundado de quem está do outro lado.
Se queremos que Portugal seja um verdadeiro nó de redes internacionais – com África, com o Golfo, com a América Latina ou com a diáspora –, temos de passar do papel de anfitriões simpáticos para o de parceiros estratégicos. E isso começa em casa: com visão partilhada, coordenação entre agentes públicos e privados, e políticas públicas à altura da ambição que o país precisa de concretizar, e não apenas de proclamar.