Tudo pode correr bem ou mal. Este é um dos inícios de ano face ao qual nos sentimos como em frente a um puzzle : as peças podem encaixar, ou talvez não...
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A economia não está mal, mas não chega para pagar a dívida, a saúde vai ter mais dinheiro, mas talvez não se trate só de dinheiro.
Na verdade, este novo mandato governamental arrisca-se a parecer um fim de ano sem réveillon.
No sentido da energia, dos votos, da disponibilidade para um novo arranque.
António Costa vai respondendo e o Governo parece em boa ordem mas não se destacam as novas resoluções, os desafios, as metas que todos julgamos conseguir atingir à meia-noite menos 10 segundos a cada ano.
E isso faz toda a diferença.
A borrasca pressente-se ao longe. Serão os efeitos do Brexit, o desacelerar dos nossos mercados de exportação, o envelhecimento ou as alterações climáticas. E não chega reagir ou consolar.
O kick off para as eleições presidenciais arrisca-se a reforçar esta espécie de colo que nos amolece e nos distrai do essencial.
Talvez a nova liderança (mesmo que seja com o atual líder) do PSD aproveite esta ausência de propulsão e arranque o motor. Mas, a ser assim, lá se vai a estabilidade que começa a parecer modorra. E um potencial sobressalto não convém ao Presidente.
Entre as reformas que a Esquerda não deixa fazer e as que a Direita não se atrevera a sugerir lá entraremos em 2020 distraídos com os foguetes do costume.
E aqui chegada, não resisto a reproduzir excerto do poeta barroco Frei António das Chagas que há dias li em fulgurante prosa do Cardeal Tolentino de Mendonça : "Para dar minha conta feita a tempo/o tempo me foi dado e não fiz conta /não quiz, sobrando tempo, fazer conta /hoje quero acertar conta e não há tempo. //Oh vós que tendes tempo sem ter conta /não gasteis vosso tempo em passatempo/cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta! //Pois aqueles que sem conta, gastam tempo, /quando o tempo chegar de prestar conta/chorarão, como eu, o não ter tempo!"
Feliz Ano Novo!
*Analista financeira