Uma revolução desejavelmente tranquila, precisa-se!
Em boa verdade, os nossos governantes deixaram de o ser. Isto porque terão chegado à conclusão que o mais seguro para a sua manutenção no poder é agir o mínimo que for possível, ainda que disfarçando com uma fanfarra propagandística de aparente e bem comunicada dinâmica fazedora.
Com algumas episódicas e pontuais exceções, é o que vem acontecendo nos últimos 20 a 30 anos.
Em domínios como a educação, a justiça ou a saúde, os resultados desta inação, combinados com a preocupante diminuição da qualidade média de quem temos escolhido para gerir os nossos destinos, estão a ser catastróficos: a educação chegou a um dos pontos mais baixos de que há memória, a justiça é, porventura, o nosso mais pesado custo de contexto, o maior entrave ao desenvolvimento e a maior fonte de desigualdades, e a saúde corre sérios riscos de atingir um perigoso ponto de não retorno.
Em face deste quadro, além identificar causas, encontrar culpados e perceber razões, importa agir. E aqui julgo que é evidente que os agentes da mudança teremos que ser nós. Nós os cidadãos, nós os profissionais dos setores em causa, que não podemos continuar a conformar-nos com este estado de coisas e teremos que sair das doentias zonas de conforto onde nos deixamos colocar.
Julgo que não é indo para os extremos que resolvemos a coisa, é mesmo trabalhando e agindo na faixa do bom senso, no exercício tranquilo, diário e persistente da cidadania informada, participando mais ativa e empenhadamente nos movimentos cívicos e associativos, e melhorando o desempenho e questionando processos e práticas nas nossas atividades profissionais.
Valará a pena que cada um se questione sobre quando foi a última vez em que: participou num ato/ação associativa?; ou, no seu local de trabalho, escreveu ou verbalizou propostas de mudanças no sentido da melhoria do desempenho pessoal e coletivo?
Temos que passar a exigir mais respeito e melhor prestação de contas a quem, direta ou indiretamente, escolhemos para nos governar, central, regional ou localmente. Temos que nos envolver e participar mais nas decisões coletivas.
Na saúde, começa a ser cada vez mais evidente que a colocação, de facto e não apenas na retórica, do cidadão e do doente no centro do sistema é o único caminho que garantirá a indispensável sustentabilidade e a necessária competitividade deste que é o grande ativo civilizacional dos nossos tempos, e que não queremos perder.
A solução passa por nós. Se estivermos à espera deles, as coisas não vão melhorar. Um sobressalto cívico, se possível tranquilo, é mesmo necessário.
*Diretor-executivo do Health Cluster Portugal

