Bem sei que esta é data para celebrarmos a amizade, a alegria, a família, as crianças, o amor, mas permitam que não me prolongue, vos deseje desde já a continuação de boas-festas e deixem-me falar da rica prenda que nos deixaram no sapatinho.
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Não é que a chegada de um novo Governo nestes tempos de inverno que correm pela economia fosse capaz de resolver os nossos problemas, mas um saborzinho de Advento não fazia mal a ninguém. Podemos chamar-lhe estado de graça, ainda mais para ser vivido com um Governo que nasceu com a promessa de fazer descer pela chaminé alguma retoma do consumo, tão a jeito nesta época de dar e receber.
Ainda dará para alguns saborearem o aumento do salário mínimo, a redução da sobretaxa, e umas quantas outras medidas, mas os mais de três mil milhões de euros que poderemos vir a pagar pela incúria do anterior Governo não é prenda para dar a ninguém e reduz a pó a esperança de que as coisas podem ser diferentes.
O que hão de pensar os eleitores de Esquerda deste "tempo novo" como proclamou António Costa, quando este caso tem a cara chapada do fantasma de natais passados com o BPN e com o BES? Será que estamos condenados a abanar a cabeça em assentimento à sentença de Cavaco Silva de que se bem que a "governação ideológica" possa durar algum tempo, acaba sempre por ser "derrotada pela realidade"?
Quando a realidade se parece em demasia com um pesadelo, o que fazem os eleitores? Abstêm-se de participar nessa realidade ou fogem para as franjas, para as realidades alternativas. É esse o perigo que reside na frase de Cavaco, a de que decisões pragmáticas como a do Banif, mas igualmente imorais, ajudem a cavar fundo o fosso entre eleitores e uma classe política a quem parece não caber mais do que ir gerindo, dentro das baias ditadas por Berlim ou pelos mercados, uma crise a seguir à outra.
Dizem-nos que o Natal é tempo de magia e bem carente dela andamos nós. Precisamos da magia própria dos homens extraordinários que não nos façam de burros a adorar o Menino e a ver passar o ouro, o incenso e a mirra sempre para os mesmos. Quem já teve de pagar BPN, e ainda vai ter de pagar BES e Banif, merece uma nova estrela que nos guie decididamente daqui para fora, para um local com mais verdade, mais respeito pelos contribuintes e menos impunidade. Uma terra tantas vezes prometida, mas raramente cumprida. Vá lá, façam um esforço, Natal é quando um homem quiser.