Terminou a semana maior da vida da Igreja: a Semana Santa. Nela se acompanha a par e passo a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Iniciou-se com o Domingo de Ramos, dia em que se recorda a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém, no qual a multidão o aclamou com ramos. Neste dia, é habitual muitos fiéis acorrerem às igrejas para benzerem os Ramos.
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Este ano, devido ao confinamento que tivemos de respeitar, foi celebrado com as igrejas e catedrais vazias. O mesmo aconteceu com todas as outras celebrações da Semana Santa. A missa de Quinta-Feira Santa, que celebra a instituição da Eucaristia, este ano sem o habitual gesto do lava-pés. A adoração da Cruz, Sexta-Feira Santa, às três horas da tarde, a hora em que Jesus morreu no Calvário. Bem como a Vigília Pascal, na noite de Sábado Santo, a primeira celebração da ressurreição de Cristo.
Estas celebrações ainda se realizaram, mas outras manifestações da piedade popular foram suprimidas, como as vias-sacras ou as procissões. Estas, embora não façam parte da liturgia oficial, congregavam ainda muitos mais fiéis.
Foi uma semana em que a Igreja celebrou os momentos mais importantes do seu calendário litúrgico completamente despojada de fiéis. Esta situação desafiou os sacerdotes e as comunidades a fazerem-se ao largo - e a lançarem-se nos mares digitais para vencerem o isolamento imposto pela Covid-19. Provavelmente, a Igreja nunca teve tão poucos presentes nas celebrações; mas também nunca terá chegado a tantos, como agora, através dos meios de comunicação, sobretudo da Internet.
Este despojamento que experimentou, para além de estimular o seu dinamismo de Igreja em saída, obrigou-a a concentrar-se no essencial. Celebrou-se o que se tinha de celebrar; e adiou-se o que se podia adiar. Foi, também, uma oportunidade para reconhecer Cristo no sofrimento do outro. Particularmente no dos infetados pelo coronavírus, que lutam pela vida nos cuidados intensivos. Contemplar Cristo morto nas vítimas mortais. E alegrar-se com a ressurreição dos que estiveram às portas da morte e voltaram à vida.
Esta pandemia veio também chamar a atenção para a abnegação e dedicação de tantos bombeiros, forças de segurança e profissionais da saúde, bem como de sacerdotes e religiosos, ou agentes funerários. Todos estão a ser autênticos cireneus a ajudar os doentes a levar a cruz da enfermidade, ou verónicas a limpar os seus rostos, ou josés de Arimateia, a dar sepultura aos corpos com riscos para as próprias vidas. Muitos deles acabam por ser vítimas do vírus que estão a combater.
Apesar de todos os aspetos positivos que se podem recolher numa tragédia como esta pandemia, ninguém deseja que uma Semana Santa assim se repita. Há, todavia, ensinamentos que se deverão reter e experiências que se deverão desenvolver. A Igreja tem de manter o dinamismo e a adaptabilidade que agora demonstrou para ir ao encontro dos que estão afastados. Só assim descobrirá o rosto de Cristo nos que sofrem e apoiará aqueles que se gastam ao serviço do outro.