Os portugueses descobriram agora que a RTP conseguiu montar, num prazo curto, um espaço de ajuda educativa que permite, em tempo de pandemia, suprir algumas das aulas presenciais que é inviável realizar.
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O êxito desta operação é revelado pela generalidade das apreciações e até pelo nível de audiências.
Toda a gente achou normal que fosse a RTP a fazer isso, ninguém se perguntou por que não foram os canais privados a ter esta iniciativa. Porque os portugueses sabem que a RTP é a sua televisão, que é a ela que se recorre para ações de serviço público. E talvez as pessoas desconheçam que o Estado não colocou nem um euro extra para a montagem deste novo projeto, que tem como parceira a Fundação Calouste Gulbenkian.
A RTP - e quando escrevo RTP, quero significar também as diversas rádios, todas sem receitas de publicidade, num conjunto de 19 canais, alguns servindo as Regiões Autónomas e várias zonas pelo mundo - é um serviço eminentemente público, financiado por uma contribuição ínfima dos cidadãos, inferior à que, lá fora, sustenta empresas congéneres.
Hoje, a tutela da RTP é um Conselho Geral Independente (CGI), que escolhe a administração, dá linhas genéricas de orientação e vela pelo cumprimento das obrigações de serviço público, sem se imiscuir na informação e na programação. A RTP é uma televisão "pública", não é uma televisão "do Estado", como foi no passado, onde os governos intervinham a seu bel-prazer.
A RTP vive hoje com metade do tempo de publicidade dos canais privados e tem as suas contas em dia. É, também com as suas rádios, um instrumento indispensável de ligação às comunidades portuguesas pelo mundo, um importante promotor da nossa língua, um auxiliar da projeção externa do país. E onde é que hoje se pode ouvir música clássica na rádio, sem ser na Antena 2? E quantos elogios não testemunhamos, todos os dias, à qualidade da programação da RTP 2?
A RTP é um "oásis"? Longe disso! Pode discutir-se a sua linha da informação? Pode e deve. A programação pode ser melhorada? Claro que sim! Em tempos normais, há por ali futebol a mais? Como espectador, sou dessa opinião. Como membro (não remunerado) do CGI da RTP, órgão a que é vedado intervir na informação e na programação, apenas nos cumpre velar por que as regras de serviço público sejam cumpridas pela empresa. E é com gosto que constato que, nesta crise, a RTP esteve bem à altura daquilo que se lhe pode pedir, como televisão de todos os portugueses. E se começássemos a pensar num canal permanente RTP Educação?
*Embaixador