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António Guterres alertou-nos para a iminência de um “inferno climático”, após a semana mais quente alguma vez registada no planeta.
Os esforços internacionais para o estabelecimento de um Pacto Global de Solidariedade Climática não alcançaram os resultados esperados. Continuamos a assistir, por um lado, ao encolher de ombros de muitos países e, por outro, às consequências devastadoras em várias zonas do globo, com seca, fome, guerra e migrações forçadas.
E estas zonas atingem, por igual, países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. O clima não conhece barreiras geográficas, ignora fronteiras, e é insensível ao nível de desenvolvimento dos estados.
Seja nos Estados Unidos, no Iraque, no Sudão, na China, no Uruguai ou em Portugal, todos os povos sentem já os efeitos desta transformação que nos ameaça a todos, põe em causa o funcionamento das economias, desestrutura as sociedades e - pior ainda - gera doenças, fome, mortes e desespero a centenas de milhões de seres humanos.
Podemos continuar a querer olhar apenas para o nosso cantinho, mas, ao ignorarmos os alertas da ONU e do seu secretário-geral, estamos a pôr em causa a própria sobrevivência da Humanidade.
A ONU tem tido um papel notável de incentivo aos municípios e regiões. Participei no VI Fórum de Governos Locais e Regionais sobre a Agenda 2030, e foi com particular emoção que ouvi Mami Mizuturi, responsável pela organização para a Redução do Risco de Desastres das Nações Unidas, dar o exemplo de Matosinhos como uma cidade que é um polo de resiliência e está preparada para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Cabe a cada um de nós dar o exemplo. É pelo exemplo que podemos elevar a nossa voz de exigência para que todos os outros contribuam para a resolução desta crise que a todos afeta. Por isso, Matosinhos antecipou para 2030 as metas de neutralidade carbónica previstas para 2050.
A “casa comum” está em risco de derrocada. Os que acham que esta avaliação é demasiado pessimista ou alarmista devem pensar que, neste caso, a prudência nos obriga a agir sem hesitações. Porque não há plano B se este falhar, não haverá uma segunda oportunidade, não há outro planeta.
António Guterres têm consciência plena de tudo isto. Tem elevado a sua voz sem cedências a pressões. É, sabemos, uma pessoa de valores e de solidariedades. Não é por ele, é por nós, é pelo nosso presente e pelo nosso futuro, que devemos empenhar-nos na luta para a qual ele nos convoca.
Só há uma Terra. E é de todos.
*Presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses