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Sabemos que participar “faz parte” em competições que se jogam a feijões mas, se este jogo fosse medido por um qualquer carácter beatificado, o F. C. Porto nem diploma de participação obteria. Uma tragédia. Este é o adjectivo que podemos atribuir à exibição na Luz, tratado de incapacidade bem pior do que o resultado (já de si histórico, pela negativa). Após 10 minutos de equilíbrio, toda a partida foi um manual prático de como insistir nos erros próprios, num triste simulacro de ser Porto, em aterradores 80 minutos sobre como destruir o que se pensava ser um processo de crescimento colectivo. Estará tudo perdido?
Nada está perdido. Mesmo quando o que vimos (e sobretudo o que não vimos) tenha sugerido que este era mesmo um desastre anunciado.
Foi confrangedora a vulgaridade de não conseguir ligar uma jogada, insistindo sempre em começar da mesma forma para acabar invariavelmente sem jeito, a perder a bola a meio campo após três passes. Jogar a respirar o ar do adversário, sem colocar um pé no jogo, sem intensidade e velocidade, sem razão ou foco, sem plano de jogo, fiel ao desnorte. Nunca vi o F. C. Porto a jogar assim na Luz, ainda por cima sem que o jogo tivesse sequer a pressão excepcional de um momento decisivo. Não era. Foi só um libelo à destruição da autoestima.
André Villas-Boas saiu da cadeira - e bem - antes do jogo acabar. O murro no balneário que terá dado tem que se fazer ouvir no Olival, em todos os dias, nas duas semanas que nos separam do regresso à competição. Ele, como muitos, sabe o que é jogar na Luz como F. C. Porto. Não como uma equipa que nem sequer quis travar a sua própria derrocada. Ninguém se habituará a algo que nunca viu.
*Adepto do F. C. Porto
(O autor escreve segundo a antiga ortografia)