Há mais de um século que cristãos de diferentes igrejas dão passos em ordem à unidade e celebram a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Nos finais do século XIX, Paul Wattson, um sacerdote anglicano, e Lurana White, também anglicana, começaram a desenvolver a ideia de introduzir na Igreja Episcopaliana dos Estados Unidos da América, a que pertenciam, o estilo de vida franciscano. Em 1898, fundaram uma congregação com esse objetivo, bem como o de promover o regresso da Igreja Anglicana à comunhão com o Papa. Em 1908, Paul Wattson estabeleceu no seio da sua comunidade o Oitavário pela Unidade dos Cristãos, entre o dia 18 de janeiro (festa da cadeira de S. Pedro) e o dia 25 de janeiro (a comemoração da Conversão de S. Paulo).
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Gradualmente, essa prática foi-se estendendo a diversas igrejas. A Igreja Católica só a começou a celebrar depois do Concílio Vaticano II, em 1968. Até aí, apesar de já se irem desenvolvendo algumas experiências ecuménicas, defendia-se que os que pensam e acreditam de forma diferente da nossa têm de ser combatidos e convencidos a regressar à verdadeira fé.
Hoje em dia já não é essa a mentalidade dominante entre os cristãos, que na sua maioria reconhecem que é um contratestemunho viverem de costas voltadas, digladiando-se e a até, como infelizmente aconteceu no passado, matando-se uns aos outros. A vontade de Jesus era "que todos sejam um" (Jo 17, 21) e o distintivo dos primeiros cristãos era terem "um só coração e uma só alma" (At 4, 32).
Há alguns anos que o Papa recebe no dia de S. Henrique (19 de janeiro), padroeiro da Finlândia, uma delegação ecuménica da Igreja Luterana da Finlândia. Este ano, Francisco exigiu aos cristãos um empenho maior na construção da unidade, num "Mundo marcado pelas guerras, ódios, nacionalismos e divisões". O Papa está convencido que para a unidade entre os cristãos é preciso "resolver os mal-entendidos, as hostilidades os preconceitos" que são os responsáveis há séculos pelos desentendimentos.
Infelizmente, ainda campeiam entre os cristãos - e até entre os católicos - muita intolerância e dificuldade em aceitar os que pensam de maneira diferente. O ecumenismo não será a uniformidade, mas sim o reconhecimento da unidade no fundamental e a aceitação da riqueza da diversidade. Pode-se acreditar em Jesus Cristo e celebrar essa fé num saudável pluralismo, desde que este não ponha em causa as verdades fundamentais da fé. Estas não são assim tantas: basta ler o credo para perceber que muitas das divergências, que tanto furor provocam nas redes sociais, não constam lá, nem dele se podem deduzir.
O importante é que no interior de todas as comunidades se respire respeito pelo diferente, que se ultrapassem todas as pequenas quezílias e se valorize muito mais o que nos une do que o que nos separa. Este é o verdadeiro caminho ecuménico, não é o da uniformização. Todos têm o seu lugar na Igreja de Jesus Cristo. As diferentes comunidades enriquecerão o todo com as suas diferentes formas de celebrar e viver a fé.
*Padre