O grupo de perigosos doidos que continua a desenvolver uma múltipla limpeza étnica no Iraque e na Síria anunciou recentemente um objetivo preocupantemente ambicioso mesmo que, à primeira vista, pareça inatingível. Espalhar a influência do Estado Islâmico aos dois países onde os seus milicianos matam cruel e indiscriminadamente, alargando-a pela Ásia perto da fronteira com a Índia, até ao limite austríaco dos Balcãs, ao Norte de África e, pasmemo-nos, a Portugal e a Espanha. Uma imensa cruzada para ser cumprida no curto espaço de apenas cinco anos...
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Se levássemos o caso a brincar, poderíamos dizer que com tamanha invasão de mouros talvez a praga de feiras medievais que se multiplicam pela península viesse a ter um upgrade significativo em termos de figurantes. Mas o assunto é sério. Tão sério que os Estados Unidos ainda estudam a forma de sair deste imbróglio que fez voltar a sua aviação ao Iraque pela primeira vez desde que os seus militares abandonaram o país em 2011. Obama, já se sabe, não quer nem tem condição de avançar para uma guerra aberta contra os criminosos à solta do Estado Islâmico. Mas também não pode - nem a pressão da comunidade internacional deixará - assistir imóvel à multiplicação de execuções em massa de toda e qualquer etnia que não seja a sunita, à morte de soldados indefesos e humilhados ou de jornalistas ocidentais feitos reféns durante meses a fio por terem cometido o crime de informar.
O presidente norte-americano já afirmou que "eliminar a raiz de um cancro [como o Estado Islâmico] não será fácil nem rápido" e por isso nada melhor que dotar de meios militares os curdos que são, no terreno, os únicos com condição de travar o avanço desenfreado dos "jihadistas". A mobilização dos aliados de Washington não está a ser fácil. Para já, Obama recolheu as boas vontades de Reino Unido, França, Albânia, Canadá, Itália, Croácia e Dinamarca. Amigos de sempre ou da ocasião dispostos a controlar o "monstro terrorista", como lhe chamou um governante iraquiano. Acontece que o Estado Islâmico não progride apenas dentro das fronteiras do Iraque. O pretenso califado germina igualmente na Síria. E é aqui que se começa a desenhar o labirinto que está a encurralar os norte-americanos. A estratégia de aniquilação do Estado Islâmico dentro da Síria implicaria que fosse o Ocidente a destruir as forças opositoras a Bashar al-Assad, o ditador acusado de genocídio que por pouco não foi atacado pela aviação dos Estados Unidos há cerca de um ano.
Enquanto não se adotam medidas eficazes para acabar com a barbárie que só no mês de agosto ditou a morte de 1500 pessoas no Iraque, a ONU aprovou o envio com caráter de urgência de uma missão de inquérito ao terreno. Pode ser que ainda se vá a tempo de salvar as mais de duas mil mulheres e crianças que a infâmia do Estado Islâmico mantém sequestradas.