A Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência volta a retratar a endogamia sistémica nas universidades. Desde 2015/2016, ano do estudo anterior, pouco ou nada mudou. Atualmente, a maioria dos docentes doutorados que ocupam posições de carreira nas universidades públicas doutorou-se na mesma instituição de Ensino Superior onde leciona.
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Os docentes iniciam e encerram o seu percurso na mesma casa. Concluem a licenciatura, mestrado, doutoramento, fazem provas de agregação, orientam e dão aulas toda a vida na mesma faculdade. Os docentes de um departamento descendem academicamente uns dos outros. Crescem no mesmo sistema.
Quando um concurso abre, consegue prever-se, regra geral, quem o vai ocupar. Os de fora passam por intrusos. Os candidatos internos à Instituição prevalecem, mesmo com concursos abertos. As universidades portuguesas continuam fechadas sobre si próprias.
Esta realidade enfadonha contrasta com a visão para 2030 da European University Association - uma Universidade sem muros, transnacional, que constrói pontes entre países e culturas e onde a cooperação internacional é pré-requisito para a inovação e investigação de qualidade.
A falta de mobilidade académica mantém as ideias em circuito fechado e uniformiza os pensamentos. Sem diversidade de percursos académicos e interesses científicos e sem exposição a culturas institucionais, formas de investigar e de ensinar diferentes, não há espaço para a inovação e transformação.
A mobilidade é uma oportunidade de crescimento pessoal e académico que implica ousadia de "sair fora da caixa". Contudo, não pode ser uma etapa exclusiva para os discentes. Para isso, quebrem-se os muros e as ameias.
* Presidente da Federação Académica do Porto