Universidades e politécnicos
Confundir torneira com água é um erro perigoso. Porque entre torneira e água existem vários "senãos" que em vez de nos matarem a sede nos podem matar à sede. A esse bem precioso, que nos mata a sede e nos rega a horta, também se chama "torneira", apenas por uma questão de facilidade de linguagem. Mas, não é "água".
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Quando compramos casa ou alugamos um quarto de hotel, nem perguntamos se tem água. Vemos as torneiras nas fotos de apresentação e logo deduzimos isso. Tomamos a água por garantida, olhando as torneiras como sua evidência, mas isso nem sempre acontece.
As torneiras, por mais bonitas ou caras que sejam, podem não garantir o acesso à água, o que acontece por um sem-número de situações que na hora da escolha é importante considerar. Pode não haver água porque nunca houve fornecimento, a fonte secou e a conta não foi paga. Mas a água também pode não ter qualidade. Pode estar contaminada, fria, quente, congelada ou não incluída na conta.
Lembro esta diferença a propósito da aprovação do Projeto de Lei (809/XIV/2.ª) sobre a "valorização do ensino politécnico". É um caso onde torneira se pode confundir com água, com graves riscos de contaminação.
Visando retirar a limitação legal que impede os politécnicos de outorgar doutoramentos e permitir a designação universidade politécnica em substituição da de instituto politécnico, esta nova lei confunde isso mesmo. Torneira e água.
Porque, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, chamar universidade a um instituto não beneficia o ensino técnico. Apenas confunde a clareza, o papel e a função de diferentes realidades do ensino, igualmente necessárias.
Até porque o saber é uma coisa; e a aplicação do saber, outra. Confundi-las ou, pior, equipará-las é um erro de lesa-majestade. Ainda pior que confundir torneira com água.
*Presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos