Começam hoje os Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim. A 24.ª edição deste grande evento desportivo será estranha, porque lhe faltará uma das partes essenciais: público na assistência. A China continua apavorada com uma pandemia que as suas vacinas não ajudaram a controlar e retrai-se. Mesmo assim, o presidente chinês vai decerto colocar o seu poder em cena de forma exuberante.
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Para percebermos que estratégia Xi Jinping porá em marcha nestes Jogos de Inverno, temos de começar por prestar atenção ao nome escolhido para dirigir a cerimónia de abertura: Zhang Yimou, um famoso cineasta que a Imprensa internacional diz ser mais reconhecido fora de portas do que no próprio país. Hoje, importa impressionar o mundo exterior com imagens ofuscantes da força e da cultura da China. Xi Jinping chamou a si parte do controlo desta organização, supervisionando ele próprio várias dimensões do evento. Tudo tem de ser grandioso. Para criar um certo efeito do real, vão ser gastos mais de 200 milhões de litros de água para produzir neve artificial e vai ser experimentada uma tecnologia de controlo das condições meteorológicas que irá manter o céu sempre azul. A preservação do planeta pode esperar, claro está...
No entanto, em Pequim, procura-se que o entusiasmo à volta das comitivas seja contido. As equipas dos diferentes países vão estar organizadas em bolhas. Tudo será minuciosamente controlado, sobretudo o transporte dos atletas, tendo sido dadas indicações à população local para nunca se aproximar dessas viaturas, mesmo em caso de acidente. Existe uma certa paranoia à volta da ideia de manter o país com zero casos positivos e, para que isso aconteça, não se desbaratam medidas, mesmo as mais irracionais. Por exemplo, isolar cidades inteiras, quando se conhece algum foco de infeções.
Sendo uma arena desportiva para várias modalidades, os Jogos Olímpicos de Inverno proporcionam também um interessante palco diplomático ao serviço do presidente da China. Amanhã chegará a Pequim o presidente da Rússia, numa altura em que a ameaça sobre a Ucrânia continua elevada. A Imprensa internacional lembra que, em 2008, a Rússia e a Geórgia entraram em confronto por altura deste grande evento; e, em 2014, a Rússia anexou a Crimeia precisamente depois destes jogos. Coincidências, decerto, mas que hoje adquirem um extraordinário significado político. Vamos ver que mensagens quererá Jinping passar do seu encontro com Putin, nomeadamente no que diz respeito a este recente conflito. Até agora, prevaleceu a neutralidade. Mas o jogo pode subitamente mudar.
*Prof. associada com agregação da UMinho
