Vacina, essa imensa medida económica
Decisiva, a curto prazo, não é tanto a aprovação do fundo de recuperação ou a presidência portuguesa da União. Relevante, no imediato, será menos a dimensão do investimento público. O que importa mesmo, para efeitos de confiança, emprego e economia, é a eficácia do plano de vacinação anticoronavírus.
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Como escrevia Helena Garrido no Observador, Portugal não se pode atrasar. Nem pode, acrescento, dar-se ao luxo de que algo corra mal. À escala global, o processo de vacinação é uma corrida. Os países mais céleres (não por acaso, a Inglaterra começou ontem) e bem-sucedidos estarão na primeira linha de normalização dos mercados (comerciais, de capitais, turísticos e, claramente, de trabalho). Os que tiverem falhas e adiamentos pagarão o duro preço de demorarem mais tempo a retomar a vida em sociedade.
Muito do que podemos retirar da segunda vaga da pandemia (ao contrário do que sucedeu na primeira) é o exemplo da falta de planeamento, de decisões tardias e de má liderança. Agora, ou o Governo se mobiliza e prepara um plano de vacinação profissional e adequado ou as coisas vão correr mal. Não tenho competências em logística farmacêutica. Mas sei como funciona a cabeça das pessoas, como se move a economia e o quão importante é criar confiança. Os portugueses têm que saber quando e onde se apresentam para levar uma injeção que os proteja da doença. É obrigatório que as vacinas cheguem em simultâneo a todo o território e que, em cada fase, se perceba bem quais são os critérios e as prioridades.
Para um país em que o turismo vale 15 por cento do PIB, é urgente retomar reservas e atrair visitantes. Para tal, é fundamental oferecermos segurança e confiança. O sol, as praias e o saber receber já não chegam. Temos que estar saudáveis. O Estado pode não ter dinheiro para aliviar impostos, criar emprego ou ajudar as empresas. Por isso, precisamos do setor privado a funcionar, e bem, e a recuperar, muito e depressa. Do Estado, só precisamos que faça uma coisa: que vacine dois terços da população e nos faça ganhar imunidade de grupo. Para não perdermos 2021.
*Empresário e pres. Ass. Comercial do Porto