A constatação de que problemas tão graves quanto uma pandemia ou o aquecimento global são universais está a empurrar as sociedades para escolhas sociais-democratas no plano político?
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Ou seja, a apetência pelo aconchego oferecido pelo Estado, ou conjunto de estados, aumenta quando os desafios não podem manifestamente ser resolvidos a nível das regiões ou de cada país individualmente considerado?
A questão é pertinente e os dados mais concretos parecem indicar que assim acontece na Europa. O jornal "El País" identificou, na sua edição de domingo, os vários governos sociais-democratas europeus, com partidos únicos no poder ou em formato de coligação. Os países aí sinalizados ultrapassam a dezena e Portugal surge na lista como tendo um Executivo de centro-esquerda de pendor social-democrata.
O que seria de nós sem um Estado interventor neste contexto pandémico? O JN referiu, na sua edição de domingo, o aumento considerável do número de testes covid antigénio realizado a expensas do Estado. Os apoios sociais disponibilizados pelo Governo durante a pandemia amorteceram, sem dúvida, o desastre económico que se temia.
No entanto, há sinais de cariz social-democrata que têm tantas vantagens quanto desvantagens. O projeto de salário mínimo europeu, avançado por Emmanuel Macron, ou a promessa de aumentar os ordenados mais baixos feita pelo novo chanceler alemão, Olaf Scholz, fazem parte de uma tendência à qual Portugal não é imune. A retribuição mínima mensal garantida vai chegar aos 705 euros em 2022, o dobro do valor praticado em 2003. Será que a maior parte dos salários duplicaram em 19 anos por via administrativa, isto é, sem contar com promoções? As remunerações-base médias aumentaram cerca de 40% entre 2003 e 2020. A desvantagem não é visível a olho nu, mas existe. A classe média está a desaparecer e o fosso entre o topo e a base da pirâmide de rendimentos está a alargar-se.
*Editor-executivo-adjunto