A insistência do presidente da República em torno da necessidade de as crianças dos 12 aos 15 anos serem vacinadas de forma universal terá, muito provavelmente, o seguinte desfecho: mais semana menos semana, e à imagem do que está a acontecer na Madeira, os menores - os saudáveis e aqueles com comorbilidades - vão engrossar o contingente de inoculados.
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Só assim se pode explicar esta vontade indomável de Marcelo Rebelo de Sousa em querer impor o seu entendimento sobre uma decisão que compete às autoridades de saúde, aos cientistas, aos médicos e aos pais. "Aquilo que é bom na Madeira será também bom nos Açores e no Continente", afirmou o chefe de Estado. Porém, ao fazê-lo desta forma tão vincada, o presidente apenas está a contribuir para aumentar o volume do ruído mediático que tem pautado um debate complexo que não se cinge a pretos e brancos. É verdade que há razões atendíveis, e cientificamente suportadas, para defender cada um dos cenários, mas esta mistura desbragada entre o que é a validação técnica e a convicção política é inquietante. Sobretudo aos olhos dos destinatários finais: as crianças e os pais, que, num contexto de tão grande dualidade, vão querer aumentar a pressão exercida sobre os médicos.
A Direção-Geral da Saúde tem-se limitado a reagir aos acontecimentos políticos, numa prova de que está a acusar a pressão. Na realidade, o pior que podia acontecer num tema tão sensível como o da vacinação de menores era que estes dois mundos se misturassem e se contaminassem, alimentando as teorias da desinformação. A decisão de vacinar crianças é, em primeiro lugar, médica e só depois política. Querer impor uma orientação quase por decreto, à revelia do que defende a DGS, pode ter um elevado significado político, mas ajuda, a prazo, a desacreditar a confiança num processo quase exemplar e que tantas vidas tem salvo.
Diretor-adjunto