Por esta altura do ano é costume falar-se da importância da vacinação contra a gripe. Os dias severos de inverno encarregar-se-ão de nos ensinar que a prevenção contra esta doença que ataca mais no frio deveria ser tomada a sério. No entanto, como adotar comportamentos preventivos, se não existe uma estratégia de comunicação que informe devidamente as pessoas sobre a importância das vacinas?
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O presidente da República vacinou-se, anteontem, juntamente com o ministro da Saúde, contra a gripe no Centro de Saúde de Sete Rios, em Lisboa. A imagem difundida nos média teve certamente efeitos de réplica em várias pessoas. Porque o melhor argumento a favor de determinada causa é sempre o exemplo. E Marcelo Rebelo de Sousa sabe bem disso. No fim, deixou palavras sucintas, mas eficazes: "Mais vale prevenir do que remediar. Eu estou aqui a prevenir". Foi uma excelente iniciativa, mas não chega.
Neste contexto, a Direção-Geral da Saúde precisa de ser mais ágil para ser eficaz na antecipação e resolução de problemas que o frio sempre provoca. Na terça-feira, a diretora-geral da Saúde em exercício lançou o alerta: a estirpe que deverá circular este ano está associada a mais casos e a situações mais graves da doença. Significa isso que as autoridades sanitárias sabem que podemos estar no limiar de uma situação crítica. Ora, tal conhecimento pressupõe a adoção de medidas que neutralizem o maior número possível de casos, principalmente entre os grupos mais vulneráveis como os idosos, que requerem particular atenção. Estaremos a fazer isso? Declarar que o vírus da gripe este ano será mais agressivo não é suficiente para ampliar o alerta e, o mais importante, ajudar a solucionar este problema. É, pois, imperioso desencadear uma vacinação alargada ao maior número de pessoas. Rapidamente. Será que a Direção-Geral da Saúde está, neste momento, a promover tais práticas? Mais do que anunciar eventuais surtos de gripe, esperar-se-ia que as autoridades de saúde viessem explicar o que está a ser feito e as razões subjacentes a um trabalho que se espera que esteja a ser preparado há algum tempo.
Deve reconhecer-se que, em Portugal, o tópico da prevenção não tem grande rentabilidade. Num estudo que desenvolvo desde 2010 sobre a mediatização da saúde na Imprensa generalista, venho constatando que esta tematização é permanentemente atirada para margens silenciosas. Poder-se-ia arriscar que o discurso jornalístico é avesso a registos que se caracterizem por traços positivos. Em parte é assim, mas isso não explica tudo. Não há, entre nós, uma aposta inequívoca na prevenção das doenças. Não temos planos contínuos, que se concretizem de forma descentralizada e que reúnam grandes investimentos. E nas instituições públicas ninguém está muito disponível para gastar tempo e recursos aí. Porque os benefícios que daí resultam não são nem visíveis, nem quantificáveis no curto prazo. Por isso, não mobilizam canseiras.
Por estes dias, em França, há um enorme debate em torno da vacinação. O Governo decidiu alargar substancialmente o número de vacinas nos primeiros anos de vida das crianças e a discussão ampliou-se em torno dos benefícios, e também dos riscos, que tais práticas transportam. É assim que se deve decidir. Não adianta esconder os efeitos secundários. Precisamos de toda a informação para perceber bem a importância das vacinas. Ora, são esses dados que nos faltam em Portugal.
É, decerto, imperioso reforçar agora os apelos à vacinação. Mas é necessário ir mais além. A Direção-Geral da Saúde tem de promover uma literacia para a prevenção através das vacinas. Em vários contextos. Em várias alturas do ano. É muito redutor falar apenas da vacinação quando chega o frio. Porque os efeitos são sempre limitados e as consequências são conhecidas. Daqui a alguns dias, os média lá vão ampliar o congestionamento que se irá viver nas urgências hospitalares devido a uma afluência anormal de utentes com gripe e lá surgirá a curva ascendente dos óbitos em notícia. Temos mesmo de melhorar.
PROF. ASSOCIADA COM AGREGAÇÃO DA UMINHO