Vagas a menos ou candidatos a mais?
Este ano, 113 jovens médicos não tiveram acesso a uma vaga de especialidade e a Ordem dos Médicos (OM) foi acusada de "não abrir vagas para todos"! E quem são estes "todos"?
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Para as 1569 vagas abertas, havia apenas 1493 candidatos com o curso feito em Portugal (muitos, sem confiança no futuro do país e da carreira médica, emigraram logo no fim do curso). Cerca de 200 potenciais candidatos vieram do estrangeiro, a maioria portugueses. Factualmente, é devido a estes últimos que não houve vagas para "todos".
Ora, Portugal é o único país do Mundo que alguns acham que tem a absurda obrigação, sem base jurídica, de abrir uma vaga de especialidade para "todos" os candidatos que, com ou sem qualidade, fizeram o curso de Medicina fora de Portugal! Porquê?!
O último candidato que teve uma vaga, tinha uma classificação de apenas 39% respostas certas e 36 candidatos tinham menos de 31% no exame de seriação! Uma candidata tinha apenas 7%!
Por que nos queremos obrigar a prescindir de níveis mínimos de qualidade de formação e a abrir vagas de especialidade mesmo para aqueles com classificações baixíssimas no exame de acesso, que não são explicáveis pelo modelo do exame mas sim por uma péssima formação pré-graduada ou enorme desleixo no estudo? Que médicos queremos para os nossos doentes? Que medicina queremos para Portugal?
Desde 2006, o número de vagas preenchidas tem evoluído da seguinte forma: 894, 997, 1064, 1215, 1190, 1391, 1496, 1541, 1533, 1612, 1569. A OM deu sempre mais capacidades formativas do que aquelas que foram preenchidas, com exceção do ano transato. Atualmente há cerca de 9000 internos no SNS! Onde querem colocar mais internos? É impossível aumentar indefinidamente o número de vagas.
O número máximo de capacidades formativas que se conseguem abrir foi atingido, este ano, com um total de 1569 vagas, das quais 473 em Medicina Geral e Familiar (MGF). Sublinhe-se que faltam apenas 600 especialistas de MGF em Portugal e estão cerca de 2000 a fazer a especialidade, pelo que alguns já irão para o desemprego ou emigração, mesmo tendo em conta as reformas.
Além do mais, desde há vários anos que estamos a formar médicos especialistas a um ritmo que é o dobro do número dos médicos que se reformam. Em 2015 vão reformar-se, no total, 430 médicos, mais de 1000 terminaram a especialidade e 1569 vão iniciar a especialidade! Portugal tem mais médicos, em termos relativos, que a Alemanha, a Suíça, França, Reino Unido, Holanda, Espanha, Bélgica, etc. Portugal tem 4,3 médicos/1000 habitantes e a média da OCDE é de apenas 3,3 médicos/1000 habitantes. O problema são as graves falhas de organização do SNS.
Que fique claro que não há vagas a menos, há candidatos a mais.