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Perante o que hoje se passa no Mundo, qualquer tema mais local parece insignificante. A desordem gerada por Trump, e em particular a traição deste à Ucrânia e as suas pretensões expansionistas, as dificuldades de resposta das instituições da União Europeia aos novos desafios económicos e geoestratégicos, a ameaça de alastramento da guerra e de canalização de todos os recursos para rearmar a Europa são problemas de tal gravidade que nos esmagam e desanimam.
Notícias que outrora faziam manchetes passam hoje despercebidas. Por exemplo, há duas semanas foram divulgadas as vagas dos cursos das instituições de Ensino Superior. É muito positivo o facto de este ano ter sido antecipada a divulgação desta informação, porque assim os estudantes candidatos ao Ensino Superior podem fazer escolhas mais informadas e refletidas.
As notícias, discretas, deram conta de um aumento do número de vagas, com particular destaque em três áreas: nos cursos de formação de professores (mais 200 vagas, um aumento de 20%); nos cursos de medicina (mais 86 vagas, mas exclusivamente destinadas a estudantes estrangeiros); nos cursos de tecnologias digitais, nos últimos anos definidos como prioritários, mas que registaram um aumento insignificante.
Há muito que manifesto reservas sobre a política de vagas no Ensino Superior, basicamente porque se insiste na atribuição de vagas, prioritariamente e de forma generosa, onde a procura é escassa. A esperança de assim se gerarem processos de mobilidade com a deslocação de estudantes para o Interior tem, ano após ano, sido frustrada pelos factos. Simultaneamente, limita-se a abertura de vagas nas instituições das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, onde há cursos com níveis muito elevados de procura e onde residem milhares de jovens que são assim forçados a procurar alternativas no ensino privado. Pior, as instituições estão proibidas de reduzir vagas nos cursos de elevada procura, o que significa que quanto maior for o sucesso no preenchimento de vagas, mais limitadas estão na obtenção de vagas para novos cursos, pois só o podem fazer por redistribuição das vagas existentes. Ou seja, quanto maior o sucesso de uma instituição, mais esta fica impossibilitada de inovar na sua oferta formativa.
A tentativa de resolver o problema da coesão territorial com a política de vagas nas instituições de Ensino Superior não funciona. Por um lado, não resolve o problema da coesão territorial: para isso são necessárias outras medidas. E, por outro, tem impedido o desenvolvimento de projetos de formação superior mais inovadores nas instituições com maiores níveis de procura.