Quase 19 anos depois, o Coliseu do Porto volta às primeiras páginas. Agora, como então, não pelas melhores razões. Agora, como então, releva como a história acaba e não como ela começa. Em 1995, a possível cedência daquela casa à IURD espoletou uma onda de contestação que ultrapassou, em muito, as fronteiras do Porto. Um movimento popular como há muito não se via. Com consequências: a Câmara Municipal, a Área Metropolitana e a Secretaria de Estado chegaram a um acordo com o proprietário, mantendo o Coliseu fiel às suas origens. Aproveitando a mobilização, constituiu-se a Associação dos Amigos do Coliseu do Porto (AACP), a quem é confiada a gestão da sala. A presidi-la, desde a sua fundação, tem estado José António Barros, empresário e conhecido melómano e um "carola" que desempenha o cargo graciosamente. Logo em 1996 o Coliseu enfrenta a sua primeira prova de fogo. Literalmente. Um incêndio causa graves danos na sala. A comoção metamorfoseou-se em solidariedade, mobilizando desde o presidente da República, Jorge Sampaio, até ao cidadão anónimo. O Coliseu foi reconstruído, com melhores condições acústicas do que nunca. E desapareceu das notícias. "No news, good news", ter-se-á pensado. Com o silêncio foram-se o entusiasmo e os associados. Se a vida da AACP nunca foi fácil, a crise dificultou-a. Perdeu-se público, os patrocínios escassearam, o financiamento público para a produção operática teve de ser mais regateado (mesmo sendo o Coliseu a única sala, a norte do Mondego, com condições para espectáculos de ópera encenados). Problemas parecidos aos enfrentados por outras instituições que actuam no mesmo mercado. A concorrência tornou-se mais intensa, tanto mais quanto mais se dependia de financiamentos governamentais. Os resultados foram piorando até se tornarem asfixiantes, ameaçando a continuidade da operação. E agora?
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Os prejuízos não são, em valor absoluto ou por comparação, muito significativos: qualquer pessoa dirá que a manutenção do Coliseu em funcionamento justificaria a verba. O problema está em consegui-la. Não parece provável que a Câmara ou a Área Metropolitana disponham, hoje, dos recursos suficientes e a Cultura é, para o actual Governo, uma área menor. Que fazer? Os mais românticos poderiam sonhar com uma nova mobilização popular - afinal, foi no Grande Porto que Guilherme Pinto e, sobretudo, Rui Moreira protagonizaram vitórias espectaculares que evidenciaram a vitalidade da sociedade civil! Realisticamente, talvez seja possível despertar as elites e pouco mais. Ora, o que é preciso vai muito para além do circunstancial. É, como se costuma dizer, estrutural. O que fazer?
A rivalidade é saudável, obriga as instituições a apurar o funcionamento, a serem mais eficientes: quando se analisam os custos, e se comparam com as boas práticas, há quase sempre muito onde poupar. Talvez o financiamento público, central ou local, introduza alguma distorção no comportamento dos organismos mais dele dependentes, conduzindo a uma postura míope e desesperada, centrada apenas no curto prazo, no pagamento das despesas correntes, descurando a sustentabilidade. As consequências são iguais às de uma empresa falida que se mantém em operação: pode arrastar, com ela, outras, até aí saudáveis. Pergunto-me: não há ninguém que pudesse pôr ordem na casa? Quem paga a banda, escolhe a música. Ou não?
Com o atrevimento de um leigo pergunto: não haveria maneira de estas entidades criarem um centro de serviços partilhados, reduzindo despesas? Há mercado para todas? Não poderiam coordenar ofertas? Se, por si sós, não são capazes de o fazer, quem poderia motivar essa aproximação e discussão? Não, decerto, um poder central distante e focado nas contas. O município? É demasiado local. Porventura a Área Metropolitana. Tem legitimidade? E orçamento? Estão a ver onde a conversa nos leva? Pode parecer fixação, mas a descentralização, para um nível adequado, até aqui poderia ajudar!
O Coliseu está em crise. Se tal for motivo para uma discussão nos termos acima enunciados, pode ser que venha por bem. Não importa como começa mas como acaba!