A pergunta é retórica. A maioria dos políticos estará predisposta a responder: sim, se o objetivo é conquistar ou manter o poder. A resposta que se pode esperar para a pergunta que faço no título é absolutamente esperada, mas como a pergunta é retórica terá sempre a virtude de estimular a reflexão junto dos eleitores sobre a resposta que os políticos estão predispostos a dar. Pode parecer que "vale tudo", mas quem pratica esta máxima gera desconfiança, mesmo entre os que fazem parte da claque.
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António Costa a defender que os jornalistas não devem estar sujeitos ao segredo de justiça, previsto numa lei que é suposto ser igual para todos, num jornal (CM) que viola frequentemente o segredo, contribuindo para que a verdadeira justiça não se faça, soa a demagogia. Entra num "vale tudo" que enfraquece quem detém o poder.
E, se olharmos para as regionais da Madeira, o que dizer da proposta do candidato do PS, Paulo Cafôfo, para que o CDS e o PCP se juntassem, com o intuito de roubar o poder a quem o deteve absolutamente nos últimos 43 anos? É a desfaçatez completa, a vergonha que exigia do PS nacional o mais completo repúdio, sem a desculpa da autonomia com que se gere a governação e, por acréscimo, a vida partidária regional.
Olhando para o debate de ontem, nas rádios, em que Costa se saiu melhor que Rio - no outro debate foi exatamente o contrário -, muito me espantou que esta prova concreta do "vale tudo" não fosse jogada por Rio contra Costa. Benditos jornalistas que estranharam esta ida com tanta sede de Cafôfo ao pote e quiseram saber o que pensava o secretário-geral do PS. Não podia pensar grande coisa porque, no seu entendimento, a autonomia do PS da Madeira, entregue de mão beijada ao independente Cafôfo, tinha como objetivo acabar de vez com a hegemonia do PSD no arquipélago. No "vale tudo", é claro, os fins justificam os meios.
E nesta guerra instalada entre socialistas e bloquistas quem tem razão? Quem começou? Como disse António Costa no Porto Canal, "o PS não serve para ser o saco de boxe onde todos batem". Ora, se o BE andou toda a legislatura a acusar o PS de não merecer a confiança dos portugueses, mesmo tendo aprovado todos os orçamentos do Estado, tem agora de sofrer com a velha máxima, eternizada por Jorge Coelho: "quem se mete com o PS, leva"! Tão amigos que eles eram, mas por agora parece que "vale tudo", até fazerem de conta que em momento nenhum da vida se poderiam entender.
De igual modo, neste "vale tudo" pela conquista do poder, Rui Rio está impedido de reconhecer dois erros clamorosos? Costa só voltou a sonhar com a maioria absoluta porque o PSD errou na votação da proposta que reduziu o preço dos passes sociais e porque não soube explicar de forma clara, desde o primeiro minuto, que proposta tinha para a contagem integral do tempo congelado na carreira dos professores. E o debate, que ontem não correu tão bem como o primeiro, não foi responsabilidade dos críticos internos, nem dos erros que possa ter cometido o Governo de Passos Coelho. Rio não precisava de ter levado isso para o debate com António Costa.
Não vale tudo!
*Jornalista