A pergunta é: valeu a pena o 25 de Abril? E a resposta é: sem dúvida. Claro que houve coisas que não correram bem. Porque a realidade nunca abarca todas as esperanças, muito menos concretiza todos os sonhos. Claro que não é difícil elencar os defeitos nestes 40 anos de democracia: desde logo, a demagogia, ou seja, a diferença entre as promessas eleitorais e as políticas realizadas. Mas ainda o clientelismo partidário e, acima de tudo, esse flagelo que todos os dias mina a credibilidade do regime: a corrupção.
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Todos estes defeitos, aos quais poderíamos juntar outros tantos, consoante o radicalismo que nos acompanhe, não podem eliminar todas as virtudes do modo de vida que os Capitães de Abril nos doaram. Eles, depois dos que combateram a ditadura e antes dos políticos que edificaram o parlamentarismo em que assentamos as premissas da nossa vida em comum.
O problema das virtudes de Abril é que de tão naturais não empolgam aqueles que já nasceram em democracia e quase se perdem na memória da mais comum das felicidades, talvez como o ar que respiramos, para quem algum dia soube o que era a opressão.
E, caro leitor, como são insubstituíveis essas virtudes. Tanto como o ar que respiramos: liberdade!
Parece coisa simples, essa da liberdade. Mas não, ela é complexa tanto na singeleza individual da sua expressão, como na expressão coletiva das relações sociais enquadradas pelos direitos e obrigações e, em última instância, por leis e tribunais.
Claro que todos os dias temos notícia de mais um corrupto que escapa às malhas da justiça, de mais um amigalhaço que consegue amealhar não por mérito próprio e sim por efeito de um nepótico decisor de causas comuns em benefício privado.
Sim, apontemos à democracia todos os defeitos que tem. Porque essa é a forma de ela não se descuidar a ponto de tornar-se irreconhecível na sua natureza de governo do povo e para o povo.
Mas não nos torturemos com as imperfeições. Por maiores que elas nos pareçam, não podemos esquecer - nem deixar que a História esqueça - que houve, há e haverá um antes e um depois do 25 de Abril.
E que o que depois do 25 de Abril nos possa parecer agora comezinho é um património que vale a pena. Sim, porque antes do 25 Abril, não tínhamos liberdade. A liberdade de expressão, a liberdade de reunião, a liberdade de manifestação, a liberdade de associação. Como não tínhamos direitos, ou, pelo menos, nem todos os tínhamos. O direito ao trabalho, à saúde, à educação, à cultura e todos estes direitos sustentados num direito maior: o da igualdade entre homem e mulher e sem diferenciação de raça e credo.
Então, digam lá se não valeu a pena...
Claro que valeu. 25 de Abril, sempre!