Valorizar o Interior deveria ser a prioridade do novo ciclo autárquico
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Por estes dias, assistimos à tomada de posse de quem vai gerir os municípios portugueses nos próximos anos. Num país pequeno, mas profundamente assimétrico, deveriam ser prioritárias políticas que combatessem com determinação o despovoamento do Interior. Eis um problema comum a vários países europeus.
Por toda a Europa, as zonas rurais enfrentam os mesmos problemas: menos população, menos serviços, menos economia, menos futuro. Segundo dados citados esta semana em editorial na revista "Courrier International", 40 por cento do território europeu confrontam-se com um despovoamento contínuo. Estes números deveriam constituir um sério sinal de alarme para vários níveis de poder: europeu, nacional e local.
Outrora lugar que se constituía como uma espécie de celeiro do país, o campo é hoje um chão de abandono. As explorações agrícolas diminuem de forma drástica a cada ano, esmagadas por políticas europeias que favorecem os grandes produtores. Num extenso dossier dedicado ao tema, o "Courrier International" diz que, na próxima década, em França, 43 por cento dos agricultores passarão para a reforma. Em Portugal, onde a agricultura familiar luta para sobreviver à falta de incentivos, a situação é similar.
No entanto, nem tudo são más notícias. Por exemplo, a imigração trouxe algum sopro de vida a certas regiões. A BBC já destacou o Fundão como um concelho que se viu revitalizado por aqueles que chegaram de fora. Noutras paragens, há quem também procure inverter a desertificação do Interior. Na Calábria, no Sul de Itália, as autoridades oferecem cinco mil a quem se instale em aldeias de montanha, com a condição de aí permanecer cinco anos. É pouco, mas é um sinal de uma vontade política que quer dar alguma centralidade às periferias.
Estamos perante um fenómeno que é simultaneamente geográfico, demográfico, económico e político. Por isso, neste novo ciclo autárquico, os executivos camarários das zonas do Interior têm um desafio colossal: não apenas gerir orçamentos, mas reacender o coração destes territórios esquecidos. Valorizar o Interior implica investir nas pessoas, criar condições para que os jovens aí permaneçam e tenham condições para construir futuro onde nasceram. É, pois, urgente, promover políticas de coesão territorial que reduzam o fosso entre o Litoral e o Interior, transformando as aldeias em espaços de inovação e de qualidade de vida. Este novo ciclo autárquico tem a responsabilidade de provar que há uma vontade política para o fazer, porque revitalizar o Interior é, acima de tudo, revitalizar o país inteiro. Esperemos que a ação não seja novamente protelada para um tempo em que já não haverá oportunidades para fazer muito.

