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É conhecido por efeito de Werther o aumento de suicídios na sequência da cobertura massiva e sensacionalista, por parte dos órgãos de Comunicação Social, de casos de mortes autoinfligidas. Foi descrito em 1974 por David Phillips com base na investigação sobre a influência dos média nas curvas de suicídio e o nome vem da obra “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Johann Wolfgang von Goethe. É hoje consensual a existência de mimetização, pelo que os casos individuais de suicídio não devem, por regra, ser noticiados, muito menos com detalhes sobre métodos e circunstâncias.
Vem isto a propósito de notícias, na semana passada, sobre a morte de pessoas do meio do entretenimento que alegadamente se suicidaram e da divulgação, por parte de alguma imprensa, de pormenores sobre uma das situações. Apesar de ser contrário às recomendações do Código Deontológico dos Jornalistas e da Organização Mundial de Saúde, não é a primeira vez que tal acontece. Já aquando da morte do ator Pedro Lima foram revelados pormenores desnecessários e até perigosos, na medida que podem espoletar efeitos de contágio. O que é importante é discutir a epidemia silenciosa de saúde mental que subjaz a este fenómeno e desconstruir alguns dos mitos associados a quem resolve acabar com a própria vida. E o primeiro é que falar do tema - seja nos média, na escola ou entre amigos - aumenta o risco de suicídio. Bem pelo contrário, uma conversa franca pode ser um espaço seguro para identificar sinais de alerta, dar apoio ou encaminhar para ajuda profissional. Outra ideia que importa desmontar é que quem ameaça matar-se só quer chamar a atenção e nunca o concretizará. As estatísticas demonstram que muitos dos suicidas verbalizaram a intenção de se matar e ninguém os ouviu, ou, pelo menos, valorizou o que estavam a sentir. A ideação suicida está geralmente associada a um estado de profundo sofrimento, em que a morte é vislumbrada como a única opção para pôr fim a uma dor insuportável.
Falar sobre suicídio de forma sensível e empática nunca levará ninguém a matar-se. E pode até prevenir um ato extremo e irreversível.
(Se está a passar por uma crise ou conhece quem esteja, saiba que há ajuda. Aqui encontra alguns recursos: https://prevenirsuicidio.pt/contactos-e-servicos-disponiveis/)