As múltiplas rondas de negociação entre a Grécia e os parceiros da zona euro têm dado em nada. A tensão sobe, na iminência de um incumprimento nos pagamentos acordados com os prestamistas. E a zona euro responde que mais dinheiro só em troca de reformas.
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Em janeiro, após vários anos de esforço titânico para equilibrar contas, e sob a tutela da mesma troika que nos tocou, os gregos votaram em quem lhes prometeu continuar no euro e pôr termo à austeridade que já lhes custara mais pobreza e desemprego.
De lá para cá, o novo Governo de Atenas sobrevive manietado pela dívida, pela pressão dos credores e pela ameaça de nova insolvência, enquanto a desconfiança e a fuga de capitais reduzem a metade os depósitos na banca grega, cada vez mais dependente da ajuda do Banco Central Europeu (BCE). E, no entanto, já lá vão dois resgates.
O braço de ferro, esse espetáculo público servido aos meios de comunicação, vai continuar. Mas há demasiado "bluff" no jogo de ambas as partes.
Para os gregos, a hipótese de um incumprimento das obrigações e, pior, a sua saída do euro conduzi-los-ia ao suicídio, abandonados como párias financeiros. Porquê? Porque os financiadores da Grécia são o FMI, o BCE e os parceiros da zona euro. São ótimos, porque são os únicos. E deixariam de sê-lo.
Para os restantes europeus, portugueses incluídos, há que admitir, sem risco de heresia, que oxalá a Grécia nos custe mais dinheiro, o de um terceiro resgate. A alternativa seria seguramente pior: um provável terramoto financeiro, o descrédito da moeda única e, a prazo, o colapso político da União Europeia.
Se houver acordo, como é desejável, é seguro que vamos pagar mais. Fala-se em 50 mil milhões. E a Portugal cumpriria adiantar praticamente tanto quanto já lá enterrou: à volta de 1,5 mil milhões, se somarmos os 1,2 mil milhões que o Estado português já emprestou à Grécia aos cerca de 300 milhões que a banca nacional detém em títulos de dívida grega.
Há um momento em que a economia e as finanças, incapazes de gerar soluções próprias, têm de dar lugar à política. A construção europeia é uma experiência política única que levou a integração democrática a níveis nunca alcançados na história. Admitir um recuo seria arriscar um regresso à barbárie.
Apesar dos abalos, com a nova ameaça de descolagem britânica, ensina a história europeia que tudo começa onde um dia acabou. Se aquele tratado de Versalhes não tivesse imposto condições impossíveis e impagáveis à Alemanha, os alemães não teriam respondido ao apelo de Hitler.