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O facto de o novo presidente da Câmara do Porto ter aparecido na capa do "The New York Times" (NYT) é uma boa notícia. Para ele, que continua em estado de graça, e para a cidade, que beneficia de exposição num dos mais conhecidos e reconhecidos órgãos de Comunicação Social do Mundo.
Por que razão se lembrou o NYT de Rui Moreira? Por ver nele "um raio de otimismo" para os portugueses: "Rui Moreira conseguiu algo praticamente sem precedentes em Portugal e em quase toda a Europa ocidental: ser eleito presidente da Câmara de uma grande cidade sem pertencer a um partido político conhecido", escreve o jornal, que aponta mesmo Moreira como um ponto de esperança no espaço político europeu, onde os partidos tradicionais são vistos com cada vez mais indiferença pelos eleitores.
A verdade é que, no que vai de tempo desde as eleições autárquicas, há vários "raios de otimismo" suscetíveis de rasgar a modorra em que estava o Poder Local em Portugal. O facto, apesar de carecer da verificação que só ações concretas e respetivos resultados poderão confirmar, ou infirmar, não é de somenos, sobretudo se tivermos em consideração que o novo quadro comunitário de apoio não se compadece com a aplicação de velhas receitas para novos problemas.
Na entrevista concedida ao JN há uma semana (ver edição de 4 de novembro), o secretário de Estado do Desenvolvimento Regional resumiu bem o espírito da coisa: "Municípios que não se unam terão menos fundos europeus". A frase de Castro Almeida é lapidar: ou os novos autarcas percebem que os problemas intermunicipais e supramunicipais exigem conversa, colaboração e execução conjuntas, ou, neste contexto de crise aguda, passarão um mau bocado. Os presidentes de Câmara "têm de se colocar como atores no processo de desenvolvimento económico e não serem apenas provedores de infraestruturas e equipamentos públicos", explicou o ex-presidente da Câmara de São João da Madeira.
Há, felizmente, sinais que apontam nesse sentido. Quando o novo presidente da Câmara de Braga decide sentar-se - e fazer-se fotografar - à mesa como o novo presidente da Câmara de Guimarães para ressuscitar o Quadrilátero Urbano, no âmbito do qual aqueles dois municípios tentam trabalhar em conjunto com Barcelos e Famalicão, está a procurar escala. Quando a Comunidade Intermunicipal do Alto Minho apresenta um excelente documento estratégico ao Governo sobre desenvolvimento regional, está a dar corpo a essa escala. Se o eixo Porto-Braga--Aveiro (cerca de 1/3 da população nacional vive nesta faixa litoral) for capaz de operar este "turnover", o poder de convocatória, aliado à força da razão e aos decibéis da voz unida, da região subirá para um patamar político não negligenciável pelo Poder Central e centralista. Dá trabalho. Mas vale a pena.