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A VCI, Via de Circulação Interna do Porto, é hoje uma autoestrada que rasga a cidade e integra o atravessamento do tráfego no eixo norte-sul do país. Com enormes volumes de tráfego, hoje é um megaparque de estacionamento ao ar livre, com todos os impactos negativos para a mobilidade da cidade e para a saúde pública. De resto, é conhecida a relação direta entre os focos de emissões resultantes das horas de ponta e as entradas nos hospitais, de pessoas com problemas respiratórios, bronquites, alergias, náuseas, problemas cardíacos, entre outros.
Das soluções que têm sido mais apontadas para mitigar os congestionamentos, surgem as políticas de portagens, alegando retirar os tarifários da Circular Regional Exterior do Porto (CREP) e alguns da A4, para desincentivar o tráfego de atravessamento na VCI, em particular dos veículos pesados.
Concordo com estas soluções, mas ainda as sinto como setoriais. Sem uma estratégia holística e integrada para o planeamento da mobilidade urbana sustentável do Grande Porto, continuaremos com medidas avulso, e sem uma visão global para que as ações possam ser concertadas. Recordo que o fluxo de pesados apenas representa 10 a 15% do tráfego de atravessamento.
Entretanto, os políticos vão criando grupos de trabalho sucessivos, mas zero de decisões. Urge repensar a nova VCI e sua integração na cidade, como um "boulevard" verde distribuidor, com múltiplas mobilidades, ciclovias segregadas e transporte público em canal próprio. Mas precisamos de coragem política para que não aconteça o mesmo que na Circunvalação, onde há décadas se continua à espera de decisões sem medo, para um redesenho mais humanizado.
* Especialista de Mobilidade Urbana