Parece que toda a gente baixou os braços e o Nó de Francos venceu. As últimas intervenções feitas pela Estradas de Portugal gastaram bastante dinheiro, quer na Via de Cintura Interna quer na Via Rápida, e tiveram o condão de deixar tudo na mesma ou pior. Tudo porque, na verdade, usaram a solução "chapa 5" tipicamente pensada por quem não é de cá - ou então de quem não consegue ir um pouco mais longe.
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Não sou engenheiro nem especialista em estradas, mas começo por uma coisa óbvia: se foi possível aumentar a estreita ponte 25 de Abril de duas para três faixas, tudo o resto é fácil. E por isso não se percebe, em primeiro lugar, como foi possível alargar-se o Nó de Francos no sentido sul-norte e continuar, na prática a afunilá-lo numa só faixa para quem sai no sentido da Via Rápida.
Qualquer pessoa que ali passe percebe que, com algum ajuste e audácia, a VCI poderia ter quatro faixas de forma a que o acesso à Via Rápida se fizesse por duas vias - fazendo com isso que todo o trânsito que entope deste Francos até à ponte da Arrábida, Devesas até Santo Ovídio, quase todas as manhãs, pudesse fluir muito melhor.
Omesmo se passa com as recentes regras de risco contínuo na Via Rápida (entre a rotunda AEP e a VCI) que aumentaram ainda mais a espera de quem vem de Leça ou do Norte. Uma vez mais porque os condutores estão completamente entalados por um risco contínuo de quase um quilómetro para todas as faixas - e que se torna caótico porque a esmagadora maioria dos veículos pretende fazer o acesso VCI-ponte da Arrábida. E tudo isto apesar da curva de acesso à VCI poder ser facilmente ampliada para duas faixas e a entrada na VCI também - desde que a VCI crescesse uma faixa ao abdicar dos... rails. Sim, tirar rails!
Vias citadinas sem separadores, com velocidade condicionada, não são mais nem menos perigosas do que uma qualquer estrada nacional. E do que se trata na VCI é de ganhar todo o espaço possível para se ajustar as vias aos fluxos necessários. Sobretudo com uma prática nunca implementada por cá: a das faixas reversíveis. Por que é que a ponte da Arrábida, ponte do Freixo e a VCI não podem funcionar com quatro faixas nos sentidos onde é preciso mais vias? Imensas estradas congestionadas pelo mundo fora já adotaram há muito essa solução e faz parte da flexibilidade necessária para se evitar a queima supérflua de combustível, tempo e neurónios das pessoas que se deslocam para ir trabalhar.
Claro, eu também preferia um mundo com muito menos carros. Mas para isso precisávamos de uma área metropolitana com mais transportes públicos fiáveis - coisa que o metro garante, mas os autocarros da STCP não conseguem. Obviamente, sem uma cegueira reinante no sistema de portagens, os camiões que pretendem ir para Leixões ou para o Norte (e vice-versa) usariam a Circular Regional Externa do Porto (CREP), que está vazia e evitava a presença de toneladas de dióxido de carbono dos pesados na principal via citadina do Porto.
Os princípios das faixas reversíveis e do ganhar de espaço à custa do separador central também dariam uma imensa ajuda ao bloqueio da Ponte do Freixo provocado pelo estrangulamento entre as Antas e o Nó do Amial. Mais 25% de espaço - uma faixa dupla nos acessos à A3 por exemplo -, e este estrangulamento reduzir-se-ia muito.
O novo mandato autárquico começou com uma boa ideia. O "Porto Atlântico" supostamente unia Rui Moreira, Guilherme Pinto e Eduardo Rodrigues. Ora, se há tema que afeta as cidades de Porto, Matosinhos e Gaia é o da mobilidade e estas vias são as mais importantes de todo o sistema. Se os presidentes continuarem sentados à espera de que algo mude, nada vai mudar porque a Estradas de Portugal, em Lisboa, não tem o assunto como prioritário. Rui Rio sempre se bateu pela mudança do Nó de Francos, mas deixou implementar uma solução cujo resultado foi quase zero. No entanto, não há razões para desistir porque o problema está lá e não envolve milhões para ser resolvido. Exige sim que ele esteja na agenda e seja considerado um problema inadiável em favor de todo o país.