Estamos, no Porto, atentos (e bem!) aos mamarrachos em construção na escarpa da Arrábida. Não apenas pelas razões estéticas - dado que estamos a estragar uma das zonas mais bonitas do Porto - mas, também, porque a forma como estes processos se desenvolveram mostra bem o lado negro do "negócio" do urbanismo.
Mas eis que começam a surgir, na cidade, novas obras que deixarão em pé os cabelos de muitos portuenses. Todas elas nas margens da Via de Cintura Interna, para os lados da Boavista. De facto, quem circula pela VCI, sentido Freixo/Arrábida e entra na cidade pelo nó da Boavista (na verdade nó de Ciríaco Cardoso) constata o estaleiro de obra montado no terreno interior desse nó - que estava livre com uma nora no seu meio - bem como as movimentações de terras e as tubagens de grande diâmetro (que, presumo, estão relacionadas com o facto de por aí passar a ribeira da Granja). E, ao ver essas obras, recordei imediatamente um artigo publicado na revista "Porto Sempre", de janeiro de 2011, onde Rui Rio, compungido, comunicava que não podia fazer nada face aos compromissos assumidos pela Câmara "antes dele", razão pela qual ali iria nascer um conjunto de seis edifícios, no qual se destacam duas torres de grande volumetria, com 20 e 16 pisos acima do solo! Não sei qual é o projeto final aprovado, mas num terreno daquela dimensão, mesmo ao lado da VCI e numa das entradas da cidade (sendo que o acesso à urbanização terá de ser feito, presumo, para a Avenida da Boavista), está visto que teremos mais uma nódoa urbanística a envergonhar o Porto!
Mas se, nesse nó, em vez de sairmos para a Boavista, optarmos por sair em direção à Foz, na Rua de Grijó constatamos que, do lado esquerdo, também já se iniciaram umas obras. Que me fizeram imediatamente recordar um dos mais difíceis dias que tive enquanto vereador da Câmara Municipal do Porto. De facto, assumindo na altura o pelouro do Ambiente, tinha apresentado, em junho de 2002, um plano para a requalificação da ribeira da Granja, que desagua junto ao jardim do Calém. Plano esse que previa, para a zona, corredores verdes de 50 metros para cada margem da ribeira. Pois em julho desse ano, o vereador das atividades económicas (já falecido) levou à reunião da Câmara uma proposta para permitir a construção de um hotel, com oito pisos, a apenas 10 metros da margem da ribeira - naquilo que entendi como uma tentativa de destruição, à nascença, do plano que tinha apresentado. Proposta que foi aprovada por Rio e a coligação PSD/CDS, com o apoio do PS. Na altura, o argumento para a pressa é que o hotel necessitava de estar pronto a tempo do Euro2004... Hoje, estou certo, será mais um mamarracho para "matar" o que resta a céu aberto da ribeira da Granja...
*ENGENHEIRO
