<p>Duas ou três pessoas me perguntaram, por estes dias, se era bom que os chineses nos comprassem dívida. Significaria isso que nos estávamos a vender aos chineses? A pergunta é curiosa. De tempos a tempos alguém compra a nossa dívida. Alemães, ingleses, noruegueses, espanhóis, todos têm dado o seu contributo e, no entanto, nunca questionámos se nos estávamos a vender ou se essas eram operações perigosas. Mas, agora, muitos de nós, parecem incapazes de travar a xenofobia que está lá muito no fundo ou o elitismo de cidadãos de primeiro mundo que nesta hora de aflição se vêem a morrer às mãos dos chineses, esses mesmos das lojas baratas, esses mesmos dos restaurantes cuja higiene a ASAE pôs a nu, esses mesmos que se sujeitam a trabalho à margem das leis que fazemos e cumprimos, esses mesmos que fazem dos Direitos Humanos letra morta sempre que isso dá jeito ao poder instalado na Praça (que só por ironia ainda se chama) Vermelha. </p>
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Pois são esses mesmos, os chineses, aqueles que conseguem o milagre de combinar comunismo e capitalismo, possivelmente juntando o pior de ambos. Mas são uma potência mundial. Compram, imagine-se dívida americana. São parceiros comerciais de vulto de EUA e da Alemanha da dura senhora Merkel. São uma potência mundial, não apenas emergente mas cada vez mais afirmativa, enquanto nós integramos um conjunto de países débeis, maus pagadores, com baixa produção, que o mundo vai conhecendo pela pouco honrosa sigla PIGS, que obviamente não significa porcos, mas que apenas junta países (Portugal, Italía, Grécia e Espanha/Spain) que, colocados por esta ordem, deram origem aquela detestável nomenclatura.
Enfim, as coisas são o que são. Os chineses têm dinheiro. Nós precisamos que nos comprem dívida. Provavelmente os chineses não terão problema em comprar o que os nossos habituais credores não querem, porque desconfiam da nossa capacidade de pagar . Provavelmente, vale-lhes a pena correr o risco. O resto é diplomacia. Provavelmente, se isso acontecer seremos mais condescendentes com o seu incumprimento de direitos que temos por sagrados. Provavelmente. Também o petróleo venezuelano nos tem aproximado de um país onde vivem milhares de portugueses e, no entanto, ninguém morrerá de amores pela pessoa e pelas ideias de Hugo Chavez.
O essencial nestes negócios é que Portugal consiga manter uma relação com o enorme mercado chinês, que vá para lá da venda de dívida. No Oriente, a reputação dos Portugueses é boa. Na China, em concreto, nunca criámos inimizades e a nossa passagem por Macau, a forma como lá estivemos e de lá saímos, joga a nosso favor, podendo abrir portas a negócios. É por isso que Portugal só tem a ganhar. Oxalá, quer a diplomacia quer as grandes empresas consigam atrair o capital chinês.