Foram divulgados, na semana passada, os resultados da prova de matemática do 12.º ano. Constatação: uma subida espectacular da média e uma diminuição das reprovações. Razões? Para a ministra é apenas o corolário dos novos métodos pedagógicos que envolvem mais tempo de aulas e uma lógica de acompanhamento dos alunos mais personalizada.
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Próximo das explicações, disse. Para jornalistas e professores, porém, tudo não passa de uma mistificação. Os testes foram muito mais fáceis. Não o dizem mas está implícito: os alunos continuam tão mal preparados como sempre. Neste país não é possível melhorar assim. Nem na matemática, nem... Por mim, gostaria de acreditar que foi mesmo o desempenho dos alunos que melhorou. Não sei se ao ponto de a reprovação ter descido "para mais de metade" (?!) como, enigmaticamente, titulava este jornal no sábado, no que pode ser considerada uma inovação conceptual! Não sei. Como não sabem os professores de matemática e a sua sociedade. Que apenas se desprestigiam, e desprestigiam a ciência, ao entrarem numa guerra de argumentos primários, confundindo ciência e luta política. Quando se alteraram tantos factores, a começar na população escolar, passando pelos métodos pedagógicos e pela dificuldade do teste, não é possível excluir, à partida, a hipótese de que todas essas variáveis tenham um efeito sobre os resultados dos alunos. Umas mais, outras menos, provavelmente algumas nenhum. É uma questão importante que deve ser estudada, empiricamente, com recurso a técnicas adequadas. E só depois tirar conclusões. Doutro modo, tudo não passa de palpites. Quando professores de matemática, com responsabilidades na direcção de uma sociedade presumivelmente científica, vêm, apressadamente, afirmar conclusões, algo vai muito errado! Tanto mais quanto se trata de matemática, a ciência do rigor. Que, assim, não sai prestigiada deste processo.
Abespinho-me por se tratar da matemática. Como me abespinho quando vejo comentadores pouco rigorosos ou, pior ainda, opinando com base em pressupostos falaciosos ou mesmo errados. Afinal eles não apenas informam, como fazem opinião. Têm, por isso, o dever de serem ainda mais rigorosos e falarem com fundamento. Caso contrário, como foi o caso de Octávio Teixeira no seu comentário semanal na Antena 1, corre-se o risco de confundir desejos com realidade. Desagradado com a actuação da Autoridade da Concorrência (AdC), no caso do preço dos combustíveis, não foi de modas: se fosse governo demitia-os. Percebe-se que a sua ideologia o leve a tal. Há apenas um pequeno senão: em Portugal, os membros do conselho da AdC são inamovíveis. Exactamente para lhes dar a independência face ao poder político e às tentações de os instrumentalizar. Coisa que Octávio Teixeira tinha a obrigação de saber! Foi, digamos assim, uma "bola fora" de um comentador que, não escondendo as suas convicções, é respeitado pelo cuidado que, habitualmente, põe na fundamentação dos seus argumentos.
No tempo em que a cantiga era uma arma, Francisco Fanhais cantava que vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar. Verdade. E às vezes, e também rima, não podemos acreditar (no que para aí se vê, ouve e lê)!
Albertocastro.jn@gmail.com