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No leilão de quarta-feira, Portugal conseguiu vender as obrigações do Tesouro que garantem a liquidez do Estado, ainda que por uma taxa elevada. Os mercados respiraram fundo, os espanhóis reagiram com euforia porque temiam o contágio e, na bolsa portuguesa, as acções dos bancos recuperaram dos mínimos históricos. Para que tal fosse possível, o Governo empenhou-se numa operação de marketing, sempre recomendável nestas situações, tanto mais que, nos dias anteriores, as "revelações" na Imprensa internacional tinham criado uma situação próxima do pânico. O Governo deu nota, no início da semana, que a execução orçamental de 2010 seria cumprida com uma poupança previsível face às expectativas, e deu conta da melhoria do saldo da balança comercial, porque o crescimento das exportações superou o das importações. É provável que também tenha funcionado a diplomacia económica, que se tenha apelado à intervenção chinesa, não se sabe em que condições negociais, e que os bancos nacionais tenham sido chamados a auxiliar a operação, através de intermediários. Tudo isso é normal, e aceitável.
Naturalmente, são boas notícias, e o Governo português pode, agora, respirar fundo, enquanto corre para o próximo obstáculo que não tardará. Conforme salienta a Imprensa internacional, Portugal terá, até à Primavera, de refinanciar a sua dívida antiga, o que irá implicar um esforço considerável, uma vez que o Instituto Nacional de Estatística prevê uma recessão para 2011, que resultará numa quebra da receita que o Estado recolhe através dos impostos, sendo quase inevitável que passem a constituir, nessa circunstância, os juros da dívida pública a pagar pelo país uma enorme pressão nas contas públicas.
Mais uma vez, será a execução orçamental, desta vez de 2011, e que começará a ser conhecida em Março ou Abril, que determinará se precisaremos de recorrer ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira, a par da Grécia e da Irlanda. Mas convém não esquecer designadamente aqueles que defendem que melhor seria que Portugal optasse, por sua iniciativa, por essa solução, que esses países estão a pagar taxas muito semelhantes às dos juros que os mercados estão a cobrar na dívida pública portuguesa, pelo que é bom que Portugal não baixe os braços e que tente, por todas as formas que estão ao seu alcance, resistir a esse recurso. Para isso, é preciso demonstrar aos mercados, e ao Banco Central Europeu, que nos tem vindo a valer, comprando a nossa dívida pública, que o PEC III está a funcionar. Se assim acontecer, se lograrmos manter o défice nos 4,6 % que foram anunciados como meta, se conseguirmos monitorizar a despesa do Estado com severidade e com medidas draconianas, e se as nossas exportações continuarem a crescer contrariando, assim, a redução no consumo doméstico, se conseguirmos desmentir as previsões negras do Senhor Krugman que traiu o seu admirador Sócrates, os mercados começarão a aliviar a pressão, os juros baixarão em função da confiança internacional no nosso país, e poderemos então acreditar que há, de facto, uma luz ao fundo do túnel, que não será seguramente o farol do FMI, que nos vem atropelar, e que só nos poderá apontar medidas bem mais drásticas do que aquelas a que já nos vamos habituando.
Pela minha parte, prefiro ser governado por um Governo eleito pelos portugueses, mesmo que não goste dele, a ver as nossas políticas públicas impostas por uma qualquer agência internacional, por muito credível que seja.