1. Há um frasco de veneno do qual cai, quase todos os dias, uma ou várias gotas que vão corroendo, lenta mas eficazmente, o PSD liderado por Manuela Ferreira Leite. Último episódio: escolha do cabeça-de-lista à eleição para o Parlamento Europeu.
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O exercício transformou-se num verdadeiro jogo do empurra: quem gostaria de tirar da frente um putativo sucessor da ex-ministra das Finanças, para que o caminho fique menos espinhoso para ele próprio, atira com um nome para a praça pública. Objectivo: queimá-lo.
Pedro Passos Coelho acha, por exemplo, que Marcelo Rebelo de Sousa seria um excelente candidato. Marcelo, por seu turno, entende que o desafio assenta que nem uma luva a Pedro Passos Coelho. Também há os que julgam Marques Mendes uma escolha muito acertada. E há os mais loucos, aqueles que não afastam hipóteses como António Borges (não se lhe conhece uma ideia sobre a União Europeia), José Pedro Aguiar-Branco (esta deve ser por brincadeira) ou mesmo Pacheco Pereira, que tem muitas ideias sobre o presente e o futuro da União Europeia, mas que, por azar, são, num bom número de situações, exactamente contrárias às posições oficiais do PSD.
Quando as coisas chegam a este estado de balbúrdia, restam duas hipóteses: ir libertando mais veneno para que a balbúrdia seja ainda mais intensa; e apelar à calma, ou seja, esperar que dos céus caia um candidato que satisfaça uns e outros. Vale o mesmo dizer: que não incomode os anseios e desejos dos que manifestamente esperam pela agonia de Manuela Ferreira Leite.
2. Numas das mais rasteirinhas tiradas demagógicas dos últimos tempos, o PCP requereu ontem, pela voz do deputado Agostinho Lopes, a presença do presidente da EDP no Parlamento para explicar aos portugueses o milagre: a empresa obteve, no actual "quadro de crise", lucros recorde (cerca de mil milhões de euros). Um escândalo! Um verdadeiro escândalo! O deputado Agostinho preferiria que a EDP tivesse prejuízos?
Para o PCP, o Governo só pode decretar já a redução do preço da energia, face aos lucros alcançados. Assim de repente, os comunistas esquecem que os preços são fixados por uma entidade independente (a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos); esquecem que os portugueses estão a pagar a electricidade muito abaixo que o défice tarifário de mil milhões de euros (diferença entre as receitas e os custos de produção) exigiria; esquecem que a maior parte dos lucros da EDP vem do exterior (EUA, Brasil, Espanha...). Enfim, esquecem tudo o que lhes dá jeito para vender uma mentira aos portugueses.