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Os juros que pagámos pela colocação da dívida, na semana passada, são altos ou baixos? Como, frequentemente, acontece a pergunta, por óbvia que seja, não é a mais acertada. No contexto em que fomos ao mercado, o resultado foi melhor do que muitos esperariam e, alguns, desejariam. Se o resultado se repetir no próximo leilão, não será mau de todo. Ganha-se mais algum tempo. Dará para aguentar assim até Abril, quando for pública a forma como correu a execução orçamental no 1.º trimestre? Não sei, ao certo, o montante de dívida que será preciso colocar durante este período. Temo, contudo, que a repetição destas condições nos comece a impor um preço proibitivo, fazendo subir o juro médio que temos de pagar para um nível que, dificilmente, teremos condições de honrar.
Não faltará quem salte daqui para a conclusão de que a saída será entregarmo-nos nos braços do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) e do FMI. Se tiver que ser, que fique claro que os termos do empréstimo continuarão a ser gravosos, dificilmente sustentáveis para um país com as nossas condições estruturais. É certo que nos serão impostas políticas ainda de maior austeridade do que as que têm vindo a ser adoptadas. Haverá reformas, na Saúde e no mercado de trabalho (se ao menos fosse na Justiça!), que, por iniciativa própria, nenhum partido fará. Dar-nos-ão mais tempo para procedermos aos ajustamentos. Ainda assim, não vejo como conseguiremos crescer às taxas que seriam necessárias para pagar os juros a que, no actual contexto, aquelas entidades nos disponibilizarão os recursos.
Excluindo uma situação de total desespero e falta de alternativa, para que aquele auxílio valha a pena é preciso readquirir reputação no mercado. Quando se impunha que estivessem empenhados nesse desígnio, os líderes dos principais partidos fazem planos de defesa ou assalto ao poder. Com mais ou menos cooperação estratégica com o presidente da República, não haverá saída que não envolva os dois maiores partidos. Utopia? A alternativa resumir-se-á a mudarmos de coveiro. Não sei se por força da elevada taxa de desemprego, pelos vistos até esse é um lugar apetecível.
Resumindo: a única hipótese é nós próprios acelerarmos o andamento no caminho traçado. Temos um trunfo: mesmo dopado com o fundo de pensões da PT, o Governo conseguiu um défice abaixo do previsto. Falta-nos outro: um acordo, para o que resta desta legislatura e a próxima, entre PS e PSD, se possível alargado ao CDS. Já conhecemos o guião: fazermos nós de FMI e FEEF. Qual a vantagem? A auto-estima. Mais: mesmo se a margem é pequena, seremos nós a gerir o tempo e o modo. Neste cenário, talvez possamos contar com a ajuda de um maior activismo político dos líderes europeus que parecem, por fim, ter percebido que os pequenos rombos também levam o barco ao fundo.
Nada disto nos livra de apertarmos ainda mais o cinto. Quando as alternativas são as que são, vale a pena correr o risco. Dizem-me, sobre o ombro, que estou a sonhar acordado! Talvez o Gedeão não tivesse razão.