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Uma intervenção surpresa atribuída ao presidente da Bielorrússia e aliado de Putin, Aleksandr Lukashenko, conseguiu paralisar o que poderia ter levado a uma guerra civil entre fações militares russas após o motim anunciado pelo chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, contra o exército regular russo sob o comando do chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, e do ministro da Defesa, Sergei Shoigu. A invasão russa da Ucrânia conheceu um rumo inesperado que pode levar a um embate irreversível entre os militares russos, atualmente suspenso, se acreditarmos na versão do líder do grupo Wagner e do Kremlin, a fim de evitar “um massacre de sangue em território russo”. Os desentendimentos entre o comandante do exército privado e os comandantes militares de Putin, veiculados na forma de crescentes ameaças de Prigozhin nos últimos meses, acabaram por derivar primeiro num motim militar anunciado no Telegram e depois, em pouquíssimas horas, no que se tornou um confronto armado que desafiou diretamente a liderança e o poder de Vladimir Putin. Prigozhin havia anunciado que queria a demissão de Shoigu e Gerasimov, a quem considerava responsáveis ??pelas derrotas sofridas até agora pela Rússia. Ao motim declarado seguiram-se escaramuças entre os dois exércitos, a destruição de aviões e o bombardeamento de depósitos de gasolina, num cenário que poderia levar irremediavelmente à guerra civil e à contestação da autoridade de Putin, que acusou Prigozhin de “traidor”.
O motim militar é um forte revés para o poder autocrático de Putin. Também não é possível descartar que a rebelião armada de Prigozhin tenha procurado gerar uma crise de poder que levaria a uma sangrenta guerra civil ou à substituição de Putin por um autocrata ainda mais duro. Venha o Diabo e escolha: Prigozhin, um ex-presidiário, empresário corrupto e fornecedor privado do exército russo durante anos, ou Putin?
*Editor-executivo