As férias, para a grande maioria daqueles que ainda as podem ter, estão aí. Ultrapassada, para já, a crise política com o mais do que esperado "fim feliz" da votação expressiva da moção de confiança, eis-nos de regresso aos nossos magnos problemas - o défice continua excessivo, a dívida não deixa de aumentar, o desemprego não mexe apesar do emprego sazonal e o corte de 4 700 milhões de euros ameaça levar os últimos cêntimos da bolsa dos portugueses. É deveras difícil não ver o futuro próximo como muito negro, por muito boa vontade que se tenha e por muito otimista que se seja. Mas, ainda assim, procurei encontrar, nestes poucos dias menos agitados que estamos a viver, algo de positivo, algum acontecimento que nos ajude a tornar menos pesados os tempos que vivemos.
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1. Durante o debate da moção de confiança no Parlamento, o primeiro-ministro anunciou a criação da denominada Instituição Financeira de Desenvolvimento, o tão falado banco de fomento, organização vocacionada para apoiar o relançamento da debilitada economia nacional. E disse mais. Afirmou que este banco terá a sua sede no Porto.
São grandes as expectativas geradas à volta da sua constituição, tendo em conta que se trata de "... mudar o paradigma de investimento dos fundos europeus, tornando-os muito mais eficazes na geração de riqueza...". A notícia, só por si, já é positiva. Saber que ficará sediada no Porto reforça a importância da decisão, uma vez que a cidade se insere na região do país mais afetada pela crise económica em que estamos mergulhados. Desta vez, parece ter imperado o interesse nacional sobre a pequena intriga local, por se reconhecer a composição do tecido empresarial nortenho, a sua vertente exportadora e a capacidade empreendedora dos seus empresários e da sua gente.
Mas fica de pé a questão essencial - onde vai centrar-se o poder de decisão da nova entidade, pois é aí que reside a verdadeira mais-valia. O passado recente oferece-nos um conjunto de maus casos de descentralização de fachada - de que é exemplo significativo o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas - e de centralismo acomodatício - como é o caso do BCP (por lapso, o JN atribuiu-me a referência, neste caso, ao BPN). Esperemos não vir a ter no Porto, apenas e tão só, mais uma instituição de fachada.
2. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, desta vez escolheu o Algarve para passar alguns dias de férias. Os Cameron, o casal e os seus três filhos, optaram por uma unidade de turismo rural e têm procurado fazer a vida de uma qualquer família comum. David Cameron e a mulher têm sido vistos a fazer compras e foram até fotografados a adquirir peixe no mercado de Aljezur. Não fora os seguranças, que inevitavelmente os acompanham o mais discretamente que é possível, e ninguém diria estarmos em presença de uma das personalidades mais relevantes de todo o mundo e uma das mais poderosas da Europa. E, apesar disso, permitiu que fossem captadas imagens dessa sua estadia em Portugal que, inevitavelmente, passaram fronteiras.
Temos que lhe estar gratos. As imagens descontraídas que dele passaram nos órgãos de comunicação social fizeram mais pelo turismo algarvio do que todas as feiras e promoções oficiais levadas a cabo no Reino Unido.
Acresce que nos últimos anos e motivado pelo infeliz desaparecimento da pequena Madeleine McCann, Portugal e o Algarve têm sido alvo de uma campanha negativa levada a cabo pela comunicação social britânica, cujo ruído não tem sido fácil de amortecer.
A presença dos Cameron no nosso país é uma preciosa ajuda para a recuperação da imagem de Portugal como país seguro e para a afirmação do Algarve como um dos destinos europeus de melhor qualidade.
3. Apesar da profunda crise que nos abala e das dificuldades por que passa a União Europeia, a época turística que atravessamos regista dados muito positivos face ao ano anterior. Uma maior contenção nos preços e algumas promoções com ofertas mais sedutoras têm ajudado a que este período seja estatisticamente melhor que o homólogo. Trata-se de um período muito curto com taxas de ocupação elevadas e tal só foi possível sacrificando alguma da margem dos operadores, é certo. Mas não deixa de ser positivo, sobretudo por se tratar de um setor altamente empregador e de referência para a imagem externa de Portugal.