Quando era quase só um desconhecido presidente da Associação Comercial do Porto, Rui Moreira podia ser visto assiduamente de Canon ao ombro a deambular pela sua cidade. O homem que, a partir de amanhã, vai iniciar o - por muitos - tão desejado novo ciclo à frente da autarquia portuense é um fanático da fotografia. O detalhe pode parecer irrelevante, mas já se sabe que só fotografa bem quem sabe olhar melhor. E esse não é um pormenor quando falamos de um fotógrafo, ainda que amador, que se especializou em retratar o Porto e se prepara para pegar nos destinos de uma cidade ensimesmada durante doze longos anos. Visto pela lente de Rui Moreira, o Porto sobressai ora nas sombras de uma contraluz realçada pelo cinzento granítico, ora nos pormenores coloridos de prédios centenários. E, apesar de não ser sempre uma evidência, há pessoas por detrás das imagens de Moreira mostradas, essencialmente, nas páginas de vários números d' O Tripeiro. As mesmas pessoas que lhe deram carta branca na eleição histórica de um independente para a segunda cidade do país.
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Não terá sido somente a descrença nos partidos do sistema a dar ao candidato a inesperada vitória em setembro. Rui Moreira apresentou aos portuenses uma visão feita de grande angular, que não fechou quaisquer portas (nem parece querer fechar agora), nem embarcou em populismos bacocos feitos de supostas vitórias antecipadas. Por isso, o acordo de governação municipal, rubricado ontem entre o presidente eleito e o socialista Manuel Pizarro, faz-nos acreditar que a cidade vai no bom caminho. Os nomes com que se começa a desenhar o executivo fazem renascer a esperança numa equipa capaz de tirar o Porto do marasmo e do provincianismo que a inequívoca movida da Baixa não consegue iludir.
O simples facto de existir um entendimento entre o vencedor e o segundo candidato mais votado nas últimas autárquicas, ao arrepio do que pretendia muita da estrutura bafienta do PS-Porto, é mais uma vitória para Moreira na qual, contudo, será justo reconhecer os méritos de Manuel Pizarro que, assim, consegue reafirmar as suas estratégias. Mas esta foi só a primeira batalha. Na ainda complexa distribuição de pelouros - no âmbito do acordo, o PS vai arrecadar três lugares - a guerra de Moreira e Pizarro contra o aparelho socialista está longe de estar ganha. Ontem à noite, os socialistas reuniram de urgência o seu secretariado distrital para analisar as movimentações capitaneadas por Pizarro. Tomara que, na observação do deve e haver dos lugares, o PS coloque "as melhores soluções para o Porto", como referiu Pizarro, à frente dos interesses partidários. Para variar.