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O primeiro-ministro grego, lembrando um discurso austero de Péricles, afirma que a economia do seu país vive uma espécie de "estado de guerra". Acrescenta que, não se agindo agora, é a bancarrota nacional. E se há falência, acaba a Grécia como estado independente. Este é o intróito a um largo conjunto de medidas de poupança e de cobrança do Estado. Inclui o congelamento ou redução de prémios, subsídios, pensões e outros produtos para-salariais, a redução de ordenados na Função Pública, a subida do IVA em dois pontos de percentagem e o aumento de vários impostos sobre os luxos.
Pode ser o que nos espera, no rectângulo. Sem exagerar, as semelhanças são flagrantes. E o governo Papandreou é também, claro, "socialista". Isso poderia indicar que tocaria noutras áreas, mas a verdade é que apostou numa estratégia considerada "revoltante" pelos sindicatos.
Os funcionários públicos pagarão a crise, como face numerosa, visível e menos protegida do Estado, que se zurze a si próprio, depois de décadas de crescimento, se calhar irrazoável. Mas amanhã as "vítimas" podem ser outras ("as grandes fortunas").
A verdade é que não há muitas saídas. A solução de cruzar os braços, atirar a toalha ao chão e chamar o FMI, tornaria a pólis helénica numa colónia de Bretton-Woods.
A União Europeia, as aparentemente tenebrosas agências de "rating", e o próprio Fundo Monetário, acham que Atenas teve uma decisão corajosa. Tanto mais corajosa quanto mais difícil.
Bruxelas diz mesmo que este caminho é certo, mas quer mais. Ora a verdade é que, com esse "mais", terá de haver um ponto onde se escolhe: ou se emagrece o sector público, ou se dá razão ao protesto da rua.
Mas o ataque ao "excesso" estadual só será credível se, como na Irlanda, atingir todos: de ministros a secretárias, de gestores públicos a contínuos, de deputados a motoristas.
E só será credível se for incrustado num plano maior, combatendo o crime de colarinho branco, a evasão fiscal, os delitos financeiros do sector privado, os monopólios disfarçados.
E só será credível se, na linha da dramatização de Papandreou, se explicar aos cidadãos - bem explicado - o impacte de cada medida, o porquê de cada passo, a razão de cada decisão.
Um governo que fala verdade ganhará o céu, mesmo que o espere o inferno na terra. E a nação ganhará, a longo termo.