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Os microplásticos vivem ao nosso redor e estão colados à nossa pele, literalmente, nas roupas com os produtos sintéticos que vestimos. A simples lavagem de peças de roupa feitas essencialmente de poliéster, nylon e acrílico pode gerar milhões de partículas que, no fim da viagem, acabam nos oceanos, nos peixes, na nossa boca, com efeitos na saúde cada vez mais preocupantes. Já foram encontrados microplásticos em quase todos os órgãos humanos.
O problema tornou-se um gigante Evereste longe dos nossos olhos - a Agência Europeia do Ambiente aponta para mais de 14 milhões de toneladas de microplásticos acumuladas nos fundos dos oceanos. Estas minúsculas partículas são produzidas e libertadas ao longo de todas as fases de vida das roupas: produção; transporte; lavagens durante a utilização; e mesmo no fim da existência acabam, não raras vezes, numa praia, onde jaz o que está roto e desbotado, ou já passou de moda. As imagens de uma orla marítima, em países africanos como o Gana, transformada numa lixeira de roupa são um espelho dessa maldição.
O designado “colonialismo ambiental” tem acelerado a crise de África no tratamento dos resíduos. É o que alerta a organização ambiental Greenpeace dando conta de que o comércio de roupa em segunda mão tem vindo a deterior-se naquele continente porque as roupas que chegam a esses mercados têm cada vez menos qualidade, sendo em grande parte desaproveitadas. Acabam em montanhas têxteis a apodrecer ao ar livre. A fast-fashion, a moda barata, consome incontáveis litros de água e tem um ciclo de vida curto, que afeta o planeta negativamente.
No rescaldo de uma Black Friday que começou semanas antes e que acaba depois dos saldos do Natal - todos nos perdemos com os emails e mensagens de promoções incríveis e vendas exclusivas antecipadas- que não nos pese a consciência, mas que haja no consumo a mesma responsabilidade com que se olham outras áreas da vida. No caso da compra a granel de roupa praticamente descartável, é essa mesma vida, ou a qualdiade que para ela se desejava que está em causa.
Os microplásticos, revela a ciência, são um tremendo problema de saúde pública, envenenam os oceanos e a nossa comida. São uma ameaça invisível com que agora também nos vestimos.