Como a guerra na Ucrânia e as suas consequências não chegam para as pantalhas, o "meio" inventou um evento putativo para se entreter. Com o país pastoreado por uma maioria absoluta governativa, com uma oposição nula e à procura de si própria e com um presidente da República politicamente "desempregado", era preciso inventar um "assunto".
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O programa do Governo e a nova Assembleia não chegavam. Então, com a sua reconhecida habilidade de criador e de pastor de factos políticos, Marcelo introduziu um falso tema na agenda. Julgávamos nós que íamos "viver habitualmente" com Costa como com o doutor Salazar, e eis que Marcelo sugere que é preciso "amarrar" o homem à governação, não vá ele ser tentado a meio por um cargo, presume-se, europeu. O homem da "palavra dada é palavra honrada" não se poupou a juras pelo "fico quatro anos e meio", valha-nos Deus, e os dependentes dele por ele. Todavia, isto lembra-me outra coisa. Num artigo sobre as "Viagens na minha terra", Miguel Tamen, olhando para o bocadinho em que Garrett descreve o coração de uma personagem como estando "em Inglaterra... na India... no Valle de Santarem, Pelo mundo em pedaços repartido...em toda a parte, menos alli" (ortografia de 1846), conclui que "existe muito pouca terra", quer para o autor, quer para o livro. Ao nosso Costa, ao arrepio do que possa "pensar" o "meio" devidamente provocado por Marcelo, também sobra pouca terra de arrimo, salvo a nossa querida periferia. "Tem pouca terra para onde ir", nas palavras de Tamen sobre Silva Leitão aqui, por mim, livremente encarnado em Costa. Já fizeram a conta às "honras nacionais" que, em cerca de quinze anos, ornamentaram cargos internacionais? Barroso, Guterres, o pequeno Vitorino, Mário Centeno. Por que carga de água a Europa, daqui a dois anos, quereria mais um indígena? Como me dizia um amigo, alguém consegue apontar uma linha, uma linha que seja, em um qualquer órgão de comunicação social internacional, onde a "hipótese da Ajuda" tivesse sido alguma vez mencionada? É coisa que famosamente não depende da vontade do próprio mesmo que ela exista, e seja em que língua for, especialmente em inglês. Termino com Garrett, a título de conselho e de refrigério para o nosso "frade" Marcelo. "Que tenha o govêrno juízo e viajaremos com muito prazer e com muita utilidade e proveito na nossa boa terra." Deixem-se, pois, de farsas voluntárias que há muito para fazer.
o autor escreve segundo a antiga ortografia
*Jurista