Recordar-se-ão da expressão "It's the ecnomy, stupid!" usada pela campanha de Bill Clinton na luta pela eleição presidencial americana. A economia americana atravessava uma fase difícil e Clinton capitalizou o descontentamento, derrotando Bush (pai). Desde então, há quem tenha transformado aquela frase em dogma. É verdade que o estado da economia influencia os resultados das eleições. Mas não o determina. Nas eleições europeias, a economia penalizou os governos de Esquerda mas não os de Direita.
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A expressão em causa permite várias declinações. "São os investimentos públicos" ou melhor "são os investimentos públicos estúpidos, estúpido" é uma delas a que, outros, contraporiam "é a falta de investimentos públicos, estúpido".
O manifesto defendendo a primeira tese teve ampla divulgação na Comunicação Social e mereceu a concordância do CDS e do PSD. Os investimentos só deverão ser efectuados se uma análise rigorosa provar que os seus benefícios superam os custos em que é necessário incorrer. Para ajudar nesse escrutínio dever-se-ia criar uma instância independente (a funcionar junto da Assembleia da República, alvitro eu), envolvendo técnicos com competência nos domínios relevantes. Em termos de princípios, se nos ficássemos por aqui, seria difícil discordar. O problema é que, do lado dos partidos, não estão em causa princípios mas fins. Como ficou demonstrado nem uma semana depois. Desde logo quando a ministra da Educação se propôs ouvir um conselho científico, cuja competência ninguém contestou, para recolher um parecer sobre como prosseguir com a avaliação dos professores. Os mesmos que apoiaram a criação de um órgão técnico para avaliar investimentos clamaram agora por uma decisão política e não queriam nem ouvir falar na análise do tal conselho. Pode parecer que as decisões são diferentes. E são-no. Quando se conhece o diagnóstico sobre o estado da educação e o papel que nesta têm os professores, fica-me a dúvida sobre qual é mais importante! O que mostra que, mesmo aqueles que clamam contra o excesso de investimento em betão e obras públicas, no fundo acabam por o considerar mais relevante que a educação.
A história não fica por aqui. O pano de fundo para o manifesto era, e bem, a necessidade de usarmos eficientemente os recursos escassos postos à nossa disposição. Uma regra geral que, não é preciso dizer, se deve aplicar a todos os investimentos que envolvem dinheiros públicos, sejam eles de iniciativa pública ou privada. Uma regra que só pode ter sido sistematicamente violada, em particular no investimento privado subsidiado. Ninguém de bom senso admitirá que o país estaria no estado actual se o investimento privado fosse todo de boa qualidade. Percebe-se mal, por isso, a complacência com que, por exemplo, se olha para os projectos agrícolas, por mais importante que a agricultura seja. O Governo até pode ter sido lento a aprovar as candidaturas. A prudência e a coerência exigiriam, porém, que não se admitisse, tacitamente, que todas as candidaturas são de boa qualidade. Sobretudo depois de se ter sido tão exigente com os investimentos públicos. Se muitos projectos privados fossem sujeitos ao escrutínio dos projectos públicos, certamente não seriam aprovados. Se os públicos são o que são...