Nos nossos dias, mais e mais homens e mulheres têm vidas longas. Não porque o limite da vida humana esteja a ser ultrapassado, mas porque são cada vez mais as pessoas que chegam a idades mais avançadas.
Esta tendência é o resultado de enormes progressos no acesso a cuidados de saúde, na diminuição da mortalidade, desde logo a mortalidade infantil, na diminuição da pobreza, na melhoria da alimentação e das condições de vida das populações. Contudo, o aumento da esperança média de vida é muitas vezes encarado como um problema porque ocorre em simultâneo com o decréscimo da natalidade, implicando uma inversão das pirâmides etárias, isto é, um aumento da importância estatística dos mais velhos e/ou diminuição da importância estatística dos mais jovens.
O decréscimo tendencial da natalidade nas sociedades contemporâneas resulta também, tal como o alongamento das vidas, de progressos nas condições de vida, sobretudo das mulheres: do aumento da escolaridade à participação na vida ativa e no espaço público, da generalização dos métodos contracetivos às mudanças de perceção sobre o lugar das crianças na vida das mulheres, nas famílias e na sociedade.
A simultaneidade das duas tendências - alongamento das vidas e decréscimo da natalidade - coloca desafios à sustentabilidade dos sistemas de segurança social e de saúde, muitas vezes enfrentados como questões de justiça geracional, que têm gerado políticas nem sempre articuladas. Por um lado, políticas de estímulo ao aumento da fecundidade e à regulação das migrações destinadas a atenuar a inversão das pirâmides etárias. Por outro, políticas para os mais velhos, de proteção na reforma e de cuidados de saúde.
Independentemente da análise e avaliação do impacto, do êxito e da possibilidade de concretização de tais políticas, parece faltar uma análise e um debate que equacione uma nova forma de olhar para estas duas tendências, sobretudo para a tendência de aumento da esperança média de vida. No nosso país, esta lacuna é particularmente importante porque somos o país da Europa em que se regista, na longevidade, uma das maiores perdas de rendimentos e de degradação da qualidade de vida.
Precisamos de políticas que promovam vidas longas mais saudáveis, mais integradas e mais ativas. Criando, para isso, novas articulações entre os três ciclos em que tradicionalmente se organiza, sequencialmente, a vida em sociedade: educação, trabalho e reforma.
*Professora universitária

