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É surpreendente como, nos últimos tempos, parece ter havido um retrocesso civilizacional em nichos da sociedade portuguesa relativamente à forma de tratar o outro! Violência verbal e física, graves, contra a diferença, contra etnias ou grupos minoritários de cidadãos, de cidadãos migrantes que, na maioria esmagadora dos casos, apenas querem encontrar um lar, um trabalho e pão para si e sua família. Representantes da Comunidade Islâmica no nosso país viram-se na necessidade de emitir um comunicado apelando à boa vontade e à proverbial bonomia do povo português para com alguns dos seus elementos, que vêm sendo vítimas de violência, racismo e ódio pela imputação generalizada de crimes que não cometeram; um actor foi vítima de agressão física grave; pequenos grupos de agitadores de extrema-direita procuram o confronto e provocam a violência em manifestações pacíficas, fazendo ampliar, pela desinformação, o efeito e a quantidade das suas acções e actividades criminosas. Mostra-se necessária uma vigilância democrática para que a actuação de quem pretende retirar-nos a liberdade não tenha eco na sociedade. Todos e cada um de nós têm um importante papel na defesa do nosso modo de vida. Em liberdade, paz, segurança, justiça. Esta semana ficaram em prisão preventiva quatro elementos, ao que parece fundadores do MAL – Movimento Armilar Lusitano. Este grupo expressa-se por um ideário neonazi. Tem, como cartilha, um programa de actuação semelhante aos grupos internacionais existentes em vários países da Europa e não só. O MAL pode fazer parte de uma organização mais vasta e internacional. O seu programa da acção e o seu escopo final parecem visar o derrube do Estado de direito democrático em que vivemos e, nesse sentido, todo o crescendo de violência, de ódio e discriminação pode ser fomentado numa actuação concertada e com origem neste grupo. Foi também notícia que tal organização planeava atacar, com armas, a AR e o Palácio de Belém, bem como assassinar altas figuras do Estado. Se assim for, se forem recolhidos indícios e provas nesse sentido, estar-se-á perante uma organização terrorista de cariz neonazi. A investigação haverá que prosseguir na mais discreta confidencialidade, no cumprimento rigoroso do segredo de justiça porque, para além do mais, o medo é, para estes grupos, uma arma de uso permanente em busca de provocar ansiedade, descredibilização das forças policiais e desconfiança nas instituições do Estado por parte da população. O medo é, para os terroristas, um trunfo e uma arma a utilizar. A Comunicação Social tem, aqui, um papel fulcral no combate a este tipo de criminalidade. As notícias devem ser minimalistas, concisas, factuais e sem percepções. Não se sabe, ainda, a dimensão deste grupo, a sua capacidade de organização e de intervenção violenta. Mas é um grupo terrorista a desmantelar e a ser exterminado pela liberdade em democracia.
*A autora escreve segundo a antiga ortografia